quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

“Olho Zoomórfico / Camera Trap” Uma perspetiva crítica da nossa biosfera através da realidade-virtual


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Uma das imagens usadas na exposição

A exposição cientifico-artistica da Mariana Silva no Museu Calouste Gulbenkian que aborda temas de extinção das espécies animais e da omnipresença do ser humano no nosso ecossistema, foi uma experiência envolvente e imersiva.









      O título foi o que captou minha atenção, “Olho Zoomórfico” . A humanidade e a
natureza sempre tiveram uma relação frágil de harmonia e coexistência, e segundo a
Mariana Silva a evolução das tecnologias de captura fotográfica no sec XIX foi um
“abrir de olhos” para consciência da extinção de espécies.




         A exposição:

A sala de exposição, com dois ecrãs de projeção


         A minha experiência foi completamente nua, visitei exposição apenas atraído pelo seu tema, e seguidamente , fui agradavelmente surpreendido por sua técnica.
         O núcleo da exposição era constituído por exibição de
uma curta de vídeo em dois ecrãs circulares chamados de
“Olho Zoomórfico” e uma projeção das páginas do livro “Como caçar com uma câmara, entre outros​” (“How to hunt with  a camera, among other things​”) numa superfície interna de uma semi-esfera.

         Logo que entrei na sala escura, fui completamente capturado por dois grandes ecrãs circulares. Não levou nenhum tempo para que eu estivesse completamente imerso naquele mundo onde o filme era mostrado.





         O filme (obra 1)

Um still do filme, Margot a dormir

         A curta de video , com aproximadamente 21 minutos, era o centro da exposição.
         Aqui era onde a actora principal ​Ngueve ​interage e experiencia um dispositivo de realidade virtual. Há um momento no filme em qual ela menciona que encomenda foi feita e entregue em um só dia , via drone. O que deixou-me humorado, pois essa ideia futurista de ter compras entregues via robôs voadores já é realidade hoje em dia.
         A história continua, revelando o problema de insomnia da Ngueve e que os “óculos de realidade virtual” foram para ajudar-lha dormir. Onde ela rapidamente é consumida por imagens de simulações orgânicas como voos de pássaros em primeira pessoa, complexas redes de movimento de formigas e térmitas e observações microscópicas de insectos na sua complexidade genial e bela.
         Margot​ ,trabalhadora num museu e uma bióloga, é a amiga e companheira de casa da ​Ngueve​. Ela entra na cena e conta como ela apresenta no tal museu, o último espécime vivo de Dodô, e como mesmo com o último animal vivo, a espécie já está extinta, pois esse nunca poderá procriar. Esta cena deixou-me bastante pensativo, pois a realização do facto da espécie extinguir-se muito antes de todos os animais daquela espécie falecerem nunca passou na minha mente, embora seja uma conclusão obviamente lógica.

         O filme continua a expandir e abordar temas como o uso das primeiras técnicas fotográficas de animais selvagens, construção de “armadilhas” onde o animal aciona a câmera para disparar, e a paralela que esta nova tecnologia criou com a caça , onde arma era a maquina fotográfica, e o gatilho era o botão do obturador.

         Outro tema interessante foi um programa de “de-extinção” onde os animais já extintos eram recriados no laboratorio via métodos científicos. Esse acto pareceu ser uma forma de humanidade realizar o erro irreversível de extinguir espécies animais no seu trajeto, e uma forma de voltar para trás no tempo, uma nostalgia.


         Camera trap (obra 2)

         Essa peça fascinou-me. Eu sentei-me em frente da caixa côncava de superfície esférica, onde as imagens eram projetadas via um espelho convexo.
         As imagens projetadas lá dentro sentiam-se como se eu estivesse realmente presente em frente do livro projetado.
         O livro em questão era “​Como caçar com uma câmara, entre outros ​” (“How to hunt with  a camera, among other things​”) e mostrava várias imagens a preto e branco de animais fotografados com os tais “armadilhas fotográficas”.


camera trap

         Mariana Silva foi formada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa foi artista residente, com bolsa da Fundação Gulbenkian, na Gasworks (Londres, 2016) e no ISCP-International Studio & Curatorial Program (Nova Iorque, 2009-2010).

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