quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Criação de Silêncio



  
 (as transmutações)

Escultura: Objecto.

Objectos para a criação de espaço. Espelhos para a criação de imagens. Pessoas para a criação de silêncio.

Objectos para a criação de espelhos para a criação de pessoas para a criação de espaço para a criação de imagens para a criação de silêncio.

Objectos para a criação de silêncio.


Photomaton & Voz, de Herberto Helder




   Somos bombardeados diariamente por informações desnecessárias, ruído visual acompanhado de lixo sonoro, uma completa embalagem de redes sociais que nos esvaziam. O ócio vence, nós dormimos. 
   "O prazer passa pela imagem: é esta a grande mutação" diz Roland Barthes em A Câmera Clara.          Desta forma, vivemos segundo uma desrealização, uma acreditação do imaginário generalizado em detrimento da solidão, já que nos dispomos a estar conectados dia e noite. O tempo para o vazio e a solidão já não existem, ainda que as alucinações materiais, as redes sociais participam de nós, domesticam-nos. Não nos conseguimos oferecer silêncio.
   Deste modo, promovemo-nos da preguiça,  a tecnologia invade-nos quotidianamente e o trabalho do pensamento esta a ser afectado.
O "progresso tecnológico" e a materialização da prática da criação artística e intelectual divergem quando as plataformas digitais de difusão ganham maior influência sobre a primeira. Esta imagem ao universalizar-se ganha uma dimensão menos autêntica, "um mundo sem diferenças (indiferente) do qual só pode surgir (...) o grito dos anarquismos, marginalismos e  individualismos: eliminemos as imagens, salvemos o desejo imediato (sem mediação)".
As imagens são mais vivas que as pessoas e o silêncio não é mais relevante para uma reflexão absoluta porque a relação entre a consciência e o objecto é feita sem a mediação do pensamento.
Utilizamos os dispositivos - objecto ou/e material físico - para existirmos virtualmente combatendo a solidão. No entanto, somos submetidos a uma cacofonia de pensamentos e opiniões aliada à verborragia exagerada que encontramos dentro do nosso "ecossistema" virtual.
    De que nos vale ter tanta informação se a não sabemos gerir ou mesmo compreender?
    E a tarefa da linguagem? Tornar-se-ia a metamorfose geradora do acto de satisfazer necessidades de ordem prática?



Referências:
HELDER, Herberto Helder. Phontomaton & Vox . 6ª edição. Portugal: Porto Editora 2015
BARTHES, Roland Barthes, A Câmara Clara. Tradução: Manuela Torres. Lisboa: EDIÇÔES 70, Lda 2015







Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.