sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O Mito

No inicio do século XX, a cultura torna-se cada vez mais visual. Numa época em que os media têm cada vez maior impacto, as personalidades, figuras públicas, e a conceção que delas é feita nem sempre corresponde à realidade como no caso de Einstein. O próprio tem uma tirada conhecida em que diz “Não sou nenhum Einstein”.

A imagem que as câmaras transmitem do físico teórico, através da fotografia em diversas publicações, é um tanto ou quanto enganadora. É construído então o “mito Einstein”, no qual facetas relevantes da sua personalidade não são reveladas com a pretensão de produzir uma versão expurgada do cientista. 

Einstein é representado como uma mente brilhante mas não como um cidadão socialmente representativo - esquecem-se da sua posição politicamente intervencionista enquanto pacifista. Einstein chega a afirmar “Para mim, a seguir às equações vem a política”. É apologista de uma organização das nações e promotor da criação do Estado de Israel. Escreve o contra-manifesto ao manifesto dos alemães que defenderam a Primeira Guerra, escreve até uma carta ao Presidente Franklin Roosevelt relacionada com a bomba atómica e assina um manifesto com Bertrand Russel. Participou também no movimento de desarmamento nuclear. Lutou contra o racismo nos Estados Unidos opondo-se ao McCartismo e aceita um doutoramento honoris causa numa universidade americana para negros.

Einstein é o primeiro cientista a deter uma posição singular relativamente ao reconhecimento que teve a nível mundial tal é vasto o domínio público que assume. Em 1905 publica os artigos que iriam dar nome ao ano - annus mirabilis - e revolucionar para sempre a ciência. Há muito que passou à galeria das figuras míticas sendo, inclusivamente, capa da revista Times mais do que uma vez.

E o porquê desta genialidade?

Todos acreditam que a resposta está no seu cérebro sendo o físico tantas vezes expresso pelo mesmo. Segundo Roland Barthes em Mitologias, o seu cérebro é uma obra de arte, uma peça de museu, um orgão ontológico. É um objeto mítico em que a “suma inteligência (de Einstein) constitui a imagem da mecânica mais aperfeiçoada” e é o próprio cientista que faz legado do seu cérebro como se de um mecanismo pronto a ser investigado se tratasse, amplificando, assim, a lenda criada.

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