sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

As faces da ideologia


Ideologia — compêndio das ilusões através das quais os homens pensavam a sua própria realidade de maneiras enviesada, deformada, fantasmagórica.
Uma das abordagens a este termo é a ideia de que esta possui uma panóplia de significados. Uma vez que, no senso comum é tido como algo ideal, contendo um conjunto de ideias (pensamentos e visões) do mundo de um indivíduo.

Uma segunda interpretação vem do pensamento marxista, em que o termo é visto sob uma concepção crítica, considerando que a ideologia é um instrumento de dominação que age por meio de persuasão, alienando a consciência humana. 


“É a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens, surge aqui como emanação direta do seu comportamento material.” Karl Marx e Friedrich Engles, 1932-1976.

Parte-se da ideia de uma linguagem da vida real. Da representação e da produção de ideias ligada à atividade material dos homens. Assim, os componentes ideológicos de uma superestrutura seriam formados por julgamentos, necessariamente enganadores através da distorção da compreensão da realidade. Continuando na lógica do pensamento marxista, a superestrutura deriva de um conflito de interesses das diferentes classes da sociedade, e dos seus modos de pensar.

Trata-se de uma falsa consciência. Consciência de um mundo material, como uma imagem distorcida. E quanto maior for a capacidade de omitir a luta de classes, mais eficaz é a ideologia, e é desse modo que a ideologia atua como uma falsa consciência, impedindo o desenvolvimento de uma outra consciência. 

“Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência."  Karl Marx e Friedrich Engles, 1932-1976.

Isto parte para a ideia que todos temos aquilo que somos. Daquilo que mostramos de nós e de como se reflete nas nossas ações. Daquilo que pensamos, daquilo que temos. Da representação que fazemos do que está "debaixo do nosso nariz”. Esta é a linguagem da vida real. Da nossa vida, da nossa consciência. Parte de nós, enquanto indivíduos reais, vivos, ocupantes de um corpo, considerarmos a consciência unicamente com uma consciência, desenvolvendo produções e relações com uma realidade que nos é própria. 

Partimos do princípio que isto é assim. Que não existe qualquer resposta, ou questão. É sempre assim? Sempre a mesma coisa? Os anos passam e as questões não surgem, porque é algo que já nos é inato. Como o “Eu tenho uma ideologia própria.”, e nada se questiona. 


Um exemplo concreto é o do ensino. O que aprendemos. O que nos ensinam. Um mundo onde as ideias e pensamentos são milhares, expressas por todos os docentes. Vem tudo de citações como, “A escola dá oportunidades a todos os alunos de aprenderem as coisas da vida”, ou “A função do professor é ensinar e a do aluno aprender”. O que realmente demonstram estas frases são os pensamentos disseminados, não só na escola, mas como fora dessa caixa. Quem disse que os alunos não possuam qualquer conhecimento e o professor é o único dono da verdade? E as nossas experiências pessoais? Todas estas ideias prescrevem as normas, generalizam um discurso e invertem a realidade ao naturalizar os factos. Sem esquecer que tudo passa a ser uma norma, uma ordem, dita como “normal”.

Referências:
MARX, K. & ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Trad. Castro e Costa
MARX, K. (1993). O Trabalho Alienado in "Manuscritos Económicos-Filosóficos". Lisboa. Ed 70, p.159-166.

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