Roland Barthes, semiólogo europeu, defende que as formas de interpretar mudaram ao longo do tempo mas não os mitos. Pega em objetos do dia a dia e teoriza-os em sistemas de signos acreditando que estes tem um significado para além deles próprios, desmistificando-os e expondo as suas estruturas ideológicas escondidas. Os vários mitos ao longo do tempo dão-nos uma melhor perceção da evolução da sociedade.
Em “The New Citroen - MYTHOLOGIES” em 1957, Barthes afirma que o ser humano tem para cada época uma adoração, algo maior e cobiçado, como que um objeto divino desejado por todos. Ao longo do tempo, com a evolução da sociedade tanto a nível tecnológico como social, este “algo” tem vindo a mudar, consoante a moral e correntes de pensamento mudam e guiam uma sociedade em constante mutação.
“I think that cars today are almost the exact equivalent of the great Gothic cathedrals: I mean the supreme creation of an era, conceived with passion by unknown artists, and consumed in image if not in usage by a whole population which appropriates them as a purely magical object.”
Roland Barthes criticava maioritariamente a burguesia, sendo que no texto pretende encontrar a relação entro o público e o objeto, neste caso o automóvel, mais precisamente o DS 19 é uma mitologia, é arte. Estes objetos são vistos como uma perfeição dos deuses, um bem material único e e maravilhoso mas que acaba por se tornar real e palpável. Deixa de ser inatingível para grande parte das pessoas. Este modelo inicialmente acessível apenas para a classe alta tornou-se o carro de uma população inteira, nem que seja consumido apenas visualmente, e não utilitáriamente, “ não pretende ser uma superfície pura, embora a sua forma geral seja muito envolvida; são contudo os encaixes dos seus planos que interessam mais ao público: tateia-se furiosamente a juntura dos vidros, passa-se a mão pelos largos regueiros de borracha que ligam a janela da retaguarda às suas cercaduras de níquel.”
“Trata-se pois de uma arte humanizada”, o povo consome a imagem, a estética o tal objeto mágico e sobrenatural “O Novo Citroen cai manifestamente do céu”, criando-se assim uma nova relação objeto-consumidor. “O objeto é aqui totalmente prostituído, transformado objeto de apropriação saída do céu da metropolis, a ‘Déesse’ é mediatizada num breve quarto de hora, realizando através deste exorcismo o próprio movimento da promoção pequeno-burguesa.”
O humor irónico que o autor utiliza na comparação do nome do modelo com deusa (Déesse), realça ainda mais a idolatrização e fascínio de uma sociedade inteira. O ser humano tem uma necessidade de adorar e necessitar sempre de algo na sociedade atual. Mas o que será o novo Citroen da nossa era? Acho difícil apontar para um único objecto, tendo em conta a lista infinita de coisas que são criadas todas os dias, assim como as inovações excepcionais de vanguarda e a velocidade tecnológica vertiginosa e revolucionária que todos os dias é revelada ao nosso mundo. Selecionar algo… simplesmente impossível. Nunca estamos satisfeitos a estamos sempre em constante busca de algo novo e diferente.
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