segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A democratização do consumo

Fazendo referência a Marshall Sahlins,Jean Baudrillard fala, em sociedade de consumo (pagina 75-76) de uma primeira e única sociedade de abundância, uma sociedade arcaica, caçadora-recolectora, que, ao contrario da contemporânea, vive em plena e verdadeira abundância, perante aquilo que precisa e deseja, partilhando e distribuindo o que a que a natureza oferece, são livres de objetos e dos seus significados. Distinguem-se, portanto, da sociedade de consumo possuidora de um excesso que vai para além da necessidade, e que por consequência atua na diferenciação social do sujeito.


O consumo é, na nossa sociedade, a forma como o individuo se posiciona perante a mesma, a maneira como pensamos e agimos é resultado de uma aglomeração de objetos de consumo alimentados ao longo da vida, e o facto de que um qualquer sujeito tem o direito de adquirir um qualquer produto cria um jogo de ascensão social nunca antes visto, o objeto já não é distintivo da classe social do sujeito, é ele próprio que procura consumir objetos, e o seus significados, com vista a uma melhoria social. Os dois consumidores, o que usa o objeto por pertencer a um grupo alvo, e o que ambiciona ser o primeiro, fazem assim parte do tal jogo de ascensão social, o objeto em si, porem, é neutro, não sendo uma exclusividade de um grupo social nem a satisfação de uma necessidade, mas sim o uso feito pelo grupo e o conjunto de significados que este transporta, uma necessidade de pertença a um grupo. É essa força proveniente de um mundo contemporâneo capitalista que permite a progressão do consumo, essa mobilidade dos objetos entre classes em vez de permitir, bloqueia uma real distribuição hierárquica e a igualdade procurada pelo consumista no momento de aquisição do objeto, pois se uma classe inferior conseguir ter acesso a algo, que num momento anterior era exclusivo do grupo nobre, esse objeto é então substituído por um modelo aparentemente melhorado, fazendo nascer a ilusão de mudança e de um ciclo gerador de desejos. O exemplo mais próximo que o cidadão contemporâneo tem disto, é a maneira como troca o smartphone, alias recentemente a empresa Apple foi acusada de tornar mais lentos os equipamentos antigos (source). Acreditar que vivemos numa “democracia do consumo” é nada mais que uma ilusão criada pelo próprio sistema de consumo, que faz permitir a reprodutibilidade e a curta vida dos objetos.

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