segunda-feira, 1 de janeiro de 2018


A ideologia é uma instância do poder que se reforça e se reproduz, servindo-se de ardis para que essa reprodução se dê sem que o seu alvo, as pessoas, se apercebam. Deste modo, a ideologia torna-se um componente fulcral na forma como as marcas e os objectos, bem como as entidades que os produzem, são caracterizadas pelos Media. Marcas que integram os mais diferentes tipos de consumíveis, tais como bebidas, brinquedos, produtos tecnológicos, artigos para casa, entre outros, são frequentemente retratadas através de determinados métodos ou esquemas publicitários de modo a atrair a atenção do consumidor. Muitas das campanhas publicitárias socorrem-se de esquemas ou estratégias que enfatizam uma ideia, em que o consumo ou lucro surgem ligados um lado moral. Assim, associando o consumo a uma causa moral, as empresas procuram associar a sua ideologia a algo positivo e solidário, conquistando com maior facilidade o apoio do consumista, que assim mitiga o seu remorso. Essas ideologias são disseminadas através de diferentes suportes, tais como a televisão, os jornais, as rádios, entre outros, de modo a espalhar a mensagem  o mais plena e unanimemente possível.

No filme, The Pervert's Guide to Ideology, Slavoj Žižek desperta-nos para uma empresa e acção publicitária onde esta situação se verifica: na  Starbuck’s Coffee, à semelhança do que acima foi descrito, a empresa procura evidenciar que, apesar dos seus produtos serem mais caros que outras marcas de café, parte do lucro que fazem reverte para causas morais, de cariz humanitário e ambiental. Žižek diz-nos: When you enter a 'Starbucks' store - it's usually always displayed in some posters there, - their message which is: Yes our cappuccino is more expensive than others - but - and then comes the story: We give one percent of all our income to some - Guatemala children to keep them healthy. For the water supply for some Sahara farmers, - or to save the forests, to enable organic growing coffee...Now I admire the ingeniosity of this solution. In the old days of pure simple consumerism - you bought a product and then you felt bad. My God, I'm just a consumerist - while people are starving in Africa.

Žižek destaca ainda o efeito que a campanha da Starbuck's tem nos seus consumidores, que ao adquirirem os seus produtos segundo esta contrapartida, ressalvam assim as suas consciências, pois deixam de estar numa posição de puro consumismo, ou seja, as causas humanitárias, acabam por surgir como manobra de distracção para o ato de consumo. No passado, a aquisição de um produto não teria este efeito secundário de reverter em favor do mais desfavorecidos, enquanto que agora o consumidor se pode libertar de qualquer sentimento de culpa, pois ao consumir está simultaneamente a contribuir para algo maior que ele mesmo. Este ponto de vista é partilhado por Žižek quando nos diz: What Starbucks enables you is to be a consumerist and - be a consumerist without any bad conscience - because the price for the counter measure, - for fighting consumerism - is already included into the price of a commodity. Like you pay a little bit more and you are not just - a consumerist but you do also your duty towards environment - the poor starving people in Africa and so on and soon. It's, I think, the ultimate form of consumerism.

Por tudo quanto ficou exposto, verifica-se assim o modo como a ideologia impregna o nosso dia a dia e a forma como ela se move, ardilosamente, e se instala nas coisas mais simples do nosso quotidiano, fortalecendo-se e multiplicando-se quanto mais nebulosa é a sua visibilidade.

Excerto do filme "The Pervert's Guide to Ideology":
https://www.youtube.com/watch?v=P18UK5IMRDI&t=1s 


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