Estreado a 29 de novembro de 2012,
Cloud Atlas (de Lily e Lana Wachowski e Tom Tykwer) retrata seis histórias que decorrem ao longo de seis eras diferentes. Cada história tem as suas respetivas personagens, cenário, enredo e, consecutivamente, um género diferente. Primeiramente, temos o drama de Adam Ewing (Jim Sturgess), o comerciante de escravos que luta pela sua vida em alto mar. De seguida temos a tragédia romântica do compositor homossexual Robert Frobisher (Ben Wishaw), passada na pré Segunda Guerra Mundial em Inglaterra. Em terceiro, um thriller sobre Luisa Rey (Halle Berry), uma jornalista de investigação que se questiona sobre corrupção numa central nuclear. A quarta história é uma comédia dos dias de hoje sobre um editor de livros confinado a um lar de idosos. Segue-se uma história de sci-fi (e pessoalmente a minha preferida) que se situa no século XXII em "Neo Seoul", cuja protagonista é Sonmi 451 (Doona Bae), uma espécie de robô humano escravo. E por fim, uma espécie de conto de fantasia num mundo pós-apocalíptico onde a humanidade regrediu a tribos primitivas (a personagem principal desta história é Zachry - Tom Hanks), e apenas alguns são possuidores de alta tecnologia e visam sair do planeta.
Cloud Atlas conta com quase três horas de filme e, por isso mesmo, gera muita dúvida em relação ao seu visionamento. É um filme que nos obriga a estar atentos devido às suas diferentes histórias, e que nos faz sentir que se fizermos uma pausa "para ir à casa de banho", sem dúvida que iremos perder alguma parte relevante para o desenvolvimento do enredo/perceção do filme.
Posto isto, o objetivo de
Cloud Atlas é centrar-se nessas histórias de modo a mostrar como tudo o que acontece está interligado. Apercebemo-nos disso no filme através de pequenas coisas, como cenários ou adereços que são partilhados em enredos diferentes, ou coisas mais "marcantes" como o "Cloud Atlas Sextet" (que faz parte de um soundtrack que, na minha opinião, faz o filme) que não só forma toda a história passada em 1936, assim como aparece como um canto no meio dos fabricantes de Neo Seoul; numa loja de discos em 1973; e assim por diante (para além disso, o "Cloud Atlas Sextet" também se refere às seis personagens principais e aos seus destinos interligados).
É um filme que se centra muito no conceito de reencarnação, mas de um modo em que algo que nós façamos num certo ponto da nossa vida, até mesmo séculos depois, nos irá afetar de alguma maneira.
Outro aspeto que gostaria de destacar é a escolha do casting. Enquanto que as personagens em cada período de tempo são únicas, os mesmos atores representam todos os papéis. Para além disso, há sempre um significado específico para a escolha dos atores. Por exemplo, Hugo Weaving retrata sempre uma personagem associada à opressão, como um comerciante de escravos ou um Nazi; Halle Berry é sempre uma personagem boa, gradualmente crescendo, passando de uma escrava para a salvadora da humanidade; Tom Hanks é geralmente egoísta, exceto quando conhece Halle Berry e se apaixona; assim como Jim Sturgess e Doona Bae, cuja paixão se repete em 1849 e em 2144.
Quanto a este fator, muitos críticos apontaram o dedo ao facto destes diferentes papéis por parte dos mesmos atores necessitarem de mudanças de maquilhagem de tal modo que teriam de mudar de sexo ou raça. Mas essas decisões são temáticas, reiterando a ideia de que todos os seres eventualmente reencarnam em todas as raças, sexos, clãs e situações. Independentemente de acreditarmos ou não nesta noção, o filme faz um ótimo trabalho a expressá-lo, ultrapassando o problema de se poder perder no que é politicamente correto.
Resumindo,
Cloud Atlas trata-se de um filme único que, embora não seja do agrado de muitos (talvez por não ser o típico "entretenimento relaxado"), é um filme que retrata, de uma maneira profunda e provocante, a condição humana. É uma obra que pode não apelar muito às massas mas que, na minha opinião, se tornará um clássico intemporal, visto ser bom demais para se tornar noutra coisa qualquer.
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