sábado, 13 de janeiro de 2018

Lady Bird - Recensão


Lady Bird, escrito e realizado por Greta Gerwig apresenta-se como filme de estreia para a realizadora. O filme estreou nos EUA no início de Dezembro do ano passado e tem data de estreia marcada em Portugal para 15 de Março deste ano. Nomeado para diversos prémios, desde a estreia nos EUA, o filme esteve entre os vencedores em várias ‘competições’, como é o caso dos Globos de Ouro onde venceu nas categorias de Melhor Filme de Comédia ou Musical, e Melhor atriz principal num Filme de Comédia ou Musical.

O filme foi gravado em Sacramento, Califórnia e retrata a vida de Christine ‘Lady Bird’ McPherson (Saoirse Ronan). Christine ou ‘Lady Bird’, nome que assume e que atribuiu a si mesma — “I gave it to myself. It’s given to me by me” — vive na pequena cidade de Sacramento com os pais, o irmão e a namorada do mesmo. Frequenta o seu último ano de secundário, numa escola católica privada. O filme retrata pequenos momentos da vida de Lady Bird, as relações que mantém a  nível familiar, escolar e romântico, tendo como principal foco a relação entre Lady Bird e Marion McPherson (Laurie Metcalf), a sua mãe. O objetivo de Lady Bird é sair de Sacramento e ir para uma universidade fora do estado da Califórnia. O filme mostra-nos o percurso desta rapariga que quer ser independente e sair do lugar onde sempre viveu, e de todas as restrições que este lhe impõe sejam estas impostas pelos pais, e em especial a mãe, ou pela política de uma escola religiosa. Mostra também as suas experiências enquanto adolescente e o crescimento que advém delas. Uma história de ‘coming-of-age’ que não deixa de focar desgostos amorosos e amizades turbulentas, aspectos já muito trabalhados neste tipo de história, mas  que se distingue pela sinceridade com que retrata a relação entre mãe e filha. 



Importa focar a relação entre Lady Bird e Marion, que se mostra muito importante no desenrolar do filme. São várias as cenas entre as duas que me ficaram na memória, pelo que vou relatar uma que, a meu ver caracteriza muito bem a sua relação. A cena tem início com Lady Bird e Marion num grande ‘armazém’ cheio de roupa, procuram o vestido perfeito para Lady Bird usar no jantar de Ação de Graças em casa do namorado, Danny. Enquanto procuram inicia-se uma pequena discussão entre as duas, mas assim que Marion encontra o vestido perfeito elas abraçam-se como se a discussão não tivesse acontecido. Neste momento conseguimos perceber que apesar das personalidades muito diferentes de uma e de outra, que muitas vezes as fazem entrar em conflito, elas conseguem superar esses momentos. Relembro-me também de uma fala de Lady Bird a meio do filme em que ela afirma “She hates me” referindo-se a Marion. Os vários momentos em que as duas aparecem juntas, têm sempre uma certa divergência de ideias entre duas. Lady Bird, em crescimento apresenta ainda uma visão optimista de um futuro onde tudo pode ser possível e Marion lhe tenta mostrar a versão mais realista do mundo, embora talvez não o faça da melhor maneira. Os momentos que partilham juntas, e outros que Lady Bird partilha com as restantes pessoas presentes na sua vida, contribuem para o crescimento de Lady Bird e também para uma tomada de consciência de que a mãe estava a fazer o seu melhor para a educar. A realidade crua com que esta relação nos é apresentada, as emoções que tanto Saoirse Ronan como Laurie Metcalf conseguem passar para o espectador são para mim o ponto alto do filme. O facto de o filme não haver qualquer embelezamento no retrato da relação é o que a torna tão real quanto é, e talvez por isso o filme seja tão especial para mim, porque consegui rever — em Lady Bird — muito da minha relação com a minha mãe e da sua evolução.

As cenas, que na sua maioria nos são apresentadas a meio de um momento, ou de uma conversa, compõem este filme que é feito de momentos apenas. Partes do dia-a-dia da vida de Lady Bird no seu último ano de secundário. Para mim, este é um dos factores que torna o filme muito emocional. O não existir de uma cena mais importante que as outras, mas sim de pequenas cenas em que todas elas têm relevância para o prosseguir da história é algo que torna Lady Bird muito real. A realidade representada no filme de uma forma muito sincera e crua, levou-me — enquanto via o filme — a uma dualidade, onde eu não estava certa se era o filme que me transportava para o seu universo, ou se o filme tinha sido recriado a partir de partes do meu e do meu dia-a-dia. Acredito que qualquer pessoa que veja Lady Bird será capaz de encontrar um pouco do seu universo no do filme. Desta forma, o espectador não só vê o filme, como também se entrega a ele, às histórias, às personagens e às emoções, que dele advém.







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