sábado, 23 de dezembro de 2017

wastedrita e a sociedade do espetáculo

a list of things that look cooler on the internet wastedrita


A obra a list of things that look cooler on the internet da artista portuguesa wastedrita é um poema que, segundo a visão da artista, enumera várias coisas que a internet torna “mais fixes” que a sua própria realidade. O poema foca a Internet e o Sujeito.

Ao analisar o título da obra ­— a list of things that look cooler on the internet — depreende-se que a Internet é um dos focos do poema e que todas as ‘coisas’ mencionadas no poema se relacionam com ela. O título da obra é, neste caso, de uma importância extrema, sem ele não se consegue perceber a crítica social que está a ser feita. Ao analisar o conteúdo do poema, a Internet assume um papel secundário, dado que apenas quem conhece o título da obra a reconhece como “objeto de estudo” do poema; sem o título presente o poema apresenta-se de uma forma mais carinhosa, como se dedicado a alguém que o sujeito poético ama. É então necessário conhecer o nome da obra de forma a compreender que o outro foco da obra é um Sujeito que está a ser criticado devido à relação que o mesmo mantém com a Internet.

A Sociedade do Espetáculo é construída a partir de uma série de representações da realidade em que vivemos, de uma forma fragmentada. A obra da wastedrita é uma critica esta sociedade, dado que a Internet é, hoje em dia um dos mídia que mais atinge a população mundial, principalmente as gerações mais novas. A Internet torna possível uma interação dos indivíduos uns com os outros de uma forma “impessoal”. As infinitas redes sociais, como por exemplo, o Facebook, o Instagram ou o Twitter compõem esta sociedade do espetáculo que não existe sem esse Sujeito, que está também presente na obra da artista. Um não pode existir sem o outro.

O Sujeito, enquanto indivíduo, tem um papel de grande importância para o desenvolvimento da sociedade. Com a criação da Internet e da plataforma interativa que lhe é inerente, o Sujeito assume-se protagonista desta realidade. Uma realidade que já não é a real, mas sim uma fictícia onde cada indivíduo apenas mostra de si o que quer mostrar, a tal fragmentação característica da sociedade do espetáculo. O “mais fixe” é o que este Sujeito, enquanto indivíduo, transmite aos outros acerca da sua realidade. Nesta realidade fictícia não há espaço para tristezas, sentimentos mais reais ou qualquer outra coisa que não seja considerada espetacular.

A Sociedade do Espetáculo assume-se enquanto “instrumento de unificação [no entanto] a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação generalizada” (Debord, 2003). Por outras palavras, e seguindo a linha de pensamento na qual o Sujeito se assume protagonista da realidade que é a internet numa das suas milhares de redes sociais, este Sujeito não está sozinho, ele cria uma série de ligações com outros indivíduos, estão todos ligados uns aos outros. Desta forma, cada indivíduo, Sujeito, mostra apenas fragmentos da sua realidade aos indivíduos a quem está ligado, fragmentos estes que cada Sujeito define como o que pode mostrar e o que quer mostrar. Cada Sujeito é uma persona da sua realidade. Todos estão ligados, todos se observam uns aos outros, mas cada Sujeito se foca em si mesmo. O observar é no entanto outra parte fulcral de todo este processo, o Sujeito encontra-se a si mesmo nos outros. Esta rede de ligações que se cria ajuda a criar o próprio Sujeito, este ao observar aqueles que o rodeiam molda-se de forma a estar adaptado ao meio envolvente, que são as suas ligações.

Na obra a artista acaba o poema com os versos “and above all / the internet”, ou seja, segundo ela a própria internet parece “mais fixe” do que na realidade é. A Internet é um fruto da Sociedade do Espetáculo. A Internet faz parte da Sociedade do Espetáculo e é desta forma ela própria uma realidade fictícia que tem como finalidade a distração dos indivíduos da sua realidade, tal como é também uma ferramenta para a indústria do consumo. Tanto a Internet como o Sujeito, presentes na obra da wastedrita, são realidades falsas.

Referências
[1] DEBORD, Guy. (2003). A Sociedade do Espetáculo. Coletivo Periferia.

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