Foi na revista "Match" que nos foi apresentado um texto, na minha opinião (e provavelmente na de outros tantos), um quanto ou nada controverso. "Bichon Entre Os Pretos" fala-nos de um casal de pintores que decidiu ir até África - com o seu filho Bichon de poucos meses - numa tentativa de obter mais inspiração para os seus trabalhos. Tendo em conta que a sua paragem foi numa tribo num país conhecido na altura por constar de canibais, claro está que a reação do "público" foi a de maior êxtase, tal era a coragem desta pequena família em viajar para o "País dos Pretos-Vermelhos" - um perigo enorme, como podem imaginar - sem uma grande recompensa aparente.
Ora, se formos a reparar bem, muito "disto" se repete constantemente ao longo da história. Com coisas tal como as pessoas que escalam o Everest, quem pratica mergulho em apneia, ou até mesmo coisas mais específicas como Felix Baumgartner que quebrou o recorde do salto de paraquedas em maior altitude, podemos observar comportamentos semelhantes por parte do "público". O tipo de comportamento onde se ignora o verdadeiro perigo - como descrito no texto de Bichon, "Se os perigos que correu o miúdo Bichon (torrentes, animais ferozes, doenças, etc) fossem reais, seria estúpido impor-lhos, sob o único pretexto de ir fazer desenho em África(...); mais condenável ainda é fazer passar essa estupidez por uma bela audácia, bem decorativa e tocante." - e, em vez disso, atribui-se ao ato uma conotação heróica.
O tipo de comportamento em que as vidas de outras pessoas, especialmente por não ser connosco próprios, serve somente para nosso entretenimento e comentário. Como se se tratasse apenas de um filme, excepto que com pessoas e situações bem reais. Revoltamo-nos quando o "herói" - tal como usado no texto de Bichon - sofre, aplaudimos quando o inimigo é derrotado, e, assim que tudo acaba, passamos ao próximo caso como se de um espetáculo se tratasse.
Posto isto, explico então o título deste post, assim como respondendo também à pergunta retórica por ele posta, onde nos questionamos se de facto este tipo de comportamento, demonstrado tanto no passado como no presente, não estará intrínseco dentro de nós como seres humanos sociais e não nos seguirá (infelizmente) também para o nosso futuro.
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