Judith Butler, seguindo a linha de pensamento de Simone de Beauvoir, diria que não: “O género é a estilização repetida do corpo, um conjunto de atos repetidos, num quadro regulador altamente rígido, que cristaliza com o tempo para produzir a aparência de substância, de uma espécie natural de ser.” (em Problemas de Género, 1990).
Esta ilusão de naturalidade é socialmente construída e arbitrária.
Pénis = Homem; Vulva = Mulher.
E o mais preocupante, a meu ver, é que muitas pessoas nem se questionam sobre as barreiras que lhes foram impostas por terem nascido com determinado corpo. Acham que assim foi porque “é assim que é!”. Esta postura de apatia mantém o ciclo a funcionar, prolonga o eco da distinção, vista como inevitável e óbvia, entre aquilo que é um homem e o que é uma mulher. Ainda há poucos dias recusaram cortar-me o cabelo (longo) num cabeleireiro, por ser para senhoras. Ora, todos sabemos que quando se pensa em cabelo padrão dentro da lógica do “feminino”, falamos de cabelo comprido, tal como o meu. Pergunto-me se aquela pessoa nunca se questionou realmente sobre nada disto.
Talvez (muito certamente) eu próprio tenha uma série de outras “certezas” que serão abaladas daqui a uns anos por alguém, mas a questão de género é tão abordada hoje que é lamentável que tanta gente ainda esteja completamente mergulhada e empenhada neste teatro social. Começamos pela questão colocada na gravidez: “É menino ou menina?” — a primeira pergunta que é feita sobre um futuro bebé. E desde logo há também o problema da uniformização e naturalização da própria noção de sexo: masculino ou feminino. Aprendemos que o natural é ter órgãos ou de um ou de outro tipo (de novo o pensamento binário) e simplesmente ignoramos corpos fora dessa lógica.
Todos estes chavões são mais turvos do que nos fazem acreditar: através de vários meios (entre os quais a internet, que tudo acelerou) a diversidade humana tem ganho cada vez maior visibilidade, o que é ótimo para que se desmonte as noções de natural, de “normal”. O que me preocupa quanto ao futuro é a possibilidade de absorção da diversidade nas lógicas da sociedade que já conhecemos, da integração social de novas “caixas” com novos limites definidos: em vez de 2 tipos de “ser” padrão — homem e mulher — maior número de variações “permitidas” e “justificadas”, mas ainda assim em número contado, e castrado. Se assim for, o que pode parecer para muitos uma forma de maior liberdade, constituirá apenas uma nova forma de controlo, de impedimento de se “ser” fora dessas novas barreiras.
Todos estes chavões são mais turvos do que nos fazem acreditar: através de vários meios (entre os quais a internet, que tudo acelerou) a diversidade humana tem ganho cada vez maior visibilidade, o que é ótimo para que se desmonte as noções de natural, de “normal”. O que me preocupa quanto ao futuro é a possibilidade de absorção da diversidade nas lógicas da sociedade que já conhecemos, da integração social de novas “caixas” com novos limites definidos: em vez de 2 tipos de “ser” padrão — homem e mulher — maior número de variações “permitidas” e “justificadas”, mas ainda assim em número contado, e castrado. Se assim for, o que pode parecer para muitos uma forma de maior liberdade, constituirá apenas uma nova forma de controlo, de impedimento de se “ser” fora dessas novas barreiras.
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