No início do filme “Matrix” a personagem principal é
apresentada com dois medicamentos: um azul, que caso o escolha adormecerá e
quando acordar tudo voltará ao normal, e um vermelho que, pelo contrario, o
fará descobrir a verdade que lhe tem sido omitida até outrora.
Assim o meu objetivo com esta composição é o de facultar o
respetivo medicamento vermelho.
Portanto, o que é o "Matrix"?
Vamos ver:
Apesar do que poderão pensar, os dois círculos na imagem apresentada acima não são iguais. Na verdade, um é maior que o outro. Desta
forma, convido qualquer pessoa a realizar um exercício mental e “guardar” no
seu pensamento o circulo que consideram ser o maior.
Agora, recuando um pouco, antes de eu dizer o que quer que seja, qual foi o vosso primeiro instinto? Que ambos os círculos eram iguais,
correto? E de facto, a razão para eles parecerem tão semelhantes é porque são iguais. Contudo é quase garantido que eu terei colocado uma grande
parte das pessoas que estão a ler este comentário a questionarem-se sobre algo
que já sabiam desde inicio.
Que conclusão quero eu chegar com isto? Pois bem, a de que
nós conseguimos ser manipulados a acreditar em algo que vai contra os nossos instintos
numa fração de segundos.
Deste modo, e após esta introdução, imaginemos que em
crianças somos ensinados que o circulo azul é maior que o vermelho. Se
dissermos essa “mentira” vezes suficientes, convencemo-nos que é a verdade. Se
nos disserem essa “mentira” varias vezes, torna-se parte da nossa realidade. E
se a uma grande parte de pessoas for ensinada essa “mentira”, a mesma passa a
fazer parte da nossa cultura.
Ou seja, começa a existir uma construção cultural, isto é,
uma hegemonia, que não é mais do que uma ideologia que se torna partilhada por um
grupo, e ao qual não é contestada por nenhum. Para Theodor Adorno e Max Horkheimer, uma adesão massiva de uma
perspetiva da realidade, que em parte, pode provocar do género de uma cegueira.
Assim, e apresentando agora um comentário mais pessoal face a
estes conceitos, existe algo que nos temos de relembrar que é o facto de que,
apesar de termos uma tradição, não significa que esta continue a ser moralmente
correta. Tradição e moralidade nem sempre devem ser vistas como o mesmo. Aliás, é muito simples para nós nos lembrarmos de tradições que praticávamos no
passado e que hoje em dia são impensáveis, como é o caso da escravatura. Uma
TRADIÇÃO praticada à menos de duzentos anos.
Assim, olhando para a esfera do veganismo, podemos ver que, por vezes,
só porque a nossa cultura ou o meio ambiente onde crescemos tomam como
principio que a carne, o leite, o peixe etc são necessários para uma alimentação
dita “correta”, isto não significa que seja. Criamos assim uma diferença entre
os animais que são produzidos para a alimentação e para serem domesticados.
Contudo, observemos então outras culturas. Se olharmos para outros
países, notamos que a história/ tradição que lhes foi passada é muito diferente
da nossa. Em certas partes do mundo os gatos e os cães são vistos como alimentos.
Essa é a cultura desse país - a historia que lhes foi contada vezes e vezes sem
conta e a qual, nós ocidentais, olhamos para a mesma como “nojenta” ou até
mesmo, desumana. Mas nesse caso, porque
é que é nojento comer um cão e não é nojento comer um porco? Porque é que para
nós é correto matar um animal e não o outro? É a cultura, a historia que nos
foi contada.
Assim, cada cultura apresenta uma história. Contudo, se
consideramos o seguinte exemplo:
Pegamos numa criança de 3 anos de cada continente, Asia, América,
Europa, Africa e Oceânia. E colocarmo-las alinhadas com 5 animais, um porco, um
cão, uma vaca, um gato e uma galinha. O mais provável que a criança tentará
fazer é brincar com todos os animais. Contudo, a realidade é que qualquer
criança inocente de 3 anos é ensinada a distinguir os animais que deve
brincar e comer consoante o país em que nascer. Nos não escolhemos a nossa
dieta, a nossa dieta é um “comportamento apreendido”.
Deste modo, nós crescemos para ver o animal “x” como comida e o
animal “y” como domestico, apesar de esta não ser uma perceção que adquirimos a
nascença, aliás, ao confrontarmos o exemplo dado acima, a perceção que nós
temos desde muito novos é a noção de compaixão face todos os animais. Uma
criança não tem rótulos, logo são os nossos pais que impõem a nossa dieta, consoante
a historia que lhes foi cantada.
Assim, a nossa alimentação não é mais do que uma história que
contada vezes suficientes a um grupo de pessoas, que passa a fazer parte da sua
cultura. Torna-se uma tradição.
É o medicamento azul que cada um de nós consome diariamente.
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