A
indústria cultural (que se traduz por tudo o que é cultural e produzido
industrialmente) manifesta-se num divertimento epidérmico, onde são mais
relevantes o divertimento e o entretenimento, do que o próprio pensamento e a
estimulação intelectual. De facto, a indústria cultural visa o maior sucesso
económico possível, procurando satisfazer as necessidades e os interesses do
maior número de pessoas.
Deste
modo, deparamo-nos com uma acentuada manipulação e exploração por parte de um
capitalismo agressivo (cujo poder reside nas classes economicamente
dominantes), através de um controlo universal e geral das consciências individuais.
Este público geral são precisamente as massas, cujos interesses são
pré-fabricados pela própria indústria cultural.
As
massas revelam, assim, um comportamento extremamente alienado, interrogando-se
pouco, sujeitando-se à conformidade perante discursos populares, e satisfazendo-se,
ainda, com bens padronizados (e produzidos em série). Daqui decorre uma
sociedade alienada de si mesma.
Nesta
matéria, destaca-se o domínio do cinema mainstream,
que constitui uma óbvia fonte de entretenimento e um constante modo de
alienação. Trata-se precisamente de um refúgio fácil para a falta de imaginação
do sujeito, que recorre ao cinema — ao clássico modelo ficcional e narrativo de
Hollywood —, para satisfazer o seu olhar e prazer visual. A indústria cultural,
ao explorar e procurar servir os interesses das massas, surge aqui através novamente
de um divertimento epidérmico, superficial e contínuo, que conduz a uma
alienação total: o espetador é, inconscientemente, substituído por alguém que
foi planeado na programação do filme. Assim como n’O Capital, de Karl Marx, o trabalhador, perante a dureza das
condições de trabalho a que está sujeito, se torna mercadoria (ao ser mais
valorizado o trabalho que produz do que a sua própria pessoa), também as massas
passam por um processo semelhante de alienação, ao serem abordadas como um
público fabricado industrialmente. À semelhança do filme, que é um objeto para
o espetador, este torna-se também um objeto do filme, e da indústria por trás
da produção do mesmo.
O
ato de olhar em si pode constituir uma fonte de prazer e entretenimento que
conduz a um olhar de interesse, curiosidade e controlo sobre o outro que, nesse
instante, aos nossos olhos se torna aparentemente um objeto. No cinema, o
contraste entre a escuridão da sala e o brilho e luz do ecrã incentivam esse
olhar atento, assim como uma separação do real e, simultaneamente, a alienação
do espetador, que alimenta as suas fantasias voyeurísticas. Assim sendo, a
figura humana é alvo de grande foque e atenção no cinema mainstream que, em conjunto com estratégias cinematográficas, criam
um mundo, um objeto de contemplação, uma realidade ilusória, que capta
facilmente o olhar desejoso do espetador.
Esta
realidade ilusória é sustentada pela afinidade do espetador com o protagonista
do filme, o que, mais uma vez, promove a alienação do sujeito. O espetador e a
personagem partilham pontos de vista, sentimentos e interesses, através desta
perceção de verosimilhança. Esta ilusão patente no ecrã do cinema é ainda mais
real quando, uma vez já fora da sala de cinema, o espetador vê a rua como a
continuação do filme a que assistiu e o mundo real como um prolongamento do
mundo ficcional representado no filme, contribuindo, deste modo, a cultura
industrial e o cinema, para uma vida de distração, entretenimento, diversão e,
em última instância, para a alienação.
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