Nos dias de
hoje vivemos a perspetivar um emprego que nos garanta uma maior estabilidade
financeira do que estabilidade emocional. Nasci numa geração em que o “emprego
com mais saída” é aquele que devo escolher e que ter uma média alta deve ser o
objetivo primordial a alcançar porque, supostamente, só assim serei alguém.
O aprender tornou-se
algo mecânico, que se baseia em decorar o que está num livro para reproduzir
num teste escrito e esquecer de imediato, porque não capta qualquer atenção ou
interesse. Na escola somos obrigados a preparar-nos para um exame que decidirá
o nosso futuro, mas convém que a média seja alta para que este futuro esteja imediatamente
orientado para a área da medicina, direito ou economia. Porque, mais uma vez,
são as profissões que tornam uma pessoa em “alguém”. A sociedade,
tal como refere Marx, vive alienada e conformada com a ideia de que o dinheiro
e o trabalho são o mais importante para a evolução do ser humano. Só depois de
se arranjar um emprego estável, que se repete diariamente de forma monótona e
repetida, é possível garantir estabilidade. Objetivos futuros, sonhos e crenças
são colocadas de lado para que o trabalho esteja assegurado e o homem passa a
ser aquilo que faz diariamente: uma personagem aborrecida, cuja vida não tem
entusiasmo e que apenas se deixa levar.
O “ser alguém”
passou a ser o mote para a vida. Mas o que significa ser alguém? Sou alguém se
me importar mais com as notas do que com os meus sonhos? Sou alguém por ir para
aquilo que “tem mais saída”? Sou alguém por me alienar tanto no trabalho que me
esqueço de socializar com os outros? Não. Isto não é ser alguém. É sim, ser um
humano que se transformou numa máquina. É desistir de sonhos por serem
“demasiado ambiciosos” e ficar sentado no sofá porque “o dia foi cansativo e
tenho o direito a descansar”. Tornamo-nos insensíveis para com os outros e para
aquilo que acontece na nossa vida. A importância das coisas passa a ser
relativa a uma quantidade de dinheiro que estabeleci necessitar e tudo o resto
passa para segundo plano.
Digo,
sinceramente, que se alguns humanos fossem substituídos por robots, pouca
diferença faria. E isso assusta-me. Quero que os meus filhos, os filhos deles e
os filhos destes últimos pensem sobre todos os assuntos e reflitam sobre eles
para que possam tomar decisões informadas. Quero que o dinheiro não seja o
primeiro objetivo e que o sonho exista, sem nunca os deixar tirar os pés da
terra. Quero que se sensibilizem com os outros e se relacionem com eles. Quero
que, mesmo depois de um dia cansativo, consigam fazer o esforço de se levantar
do sofá e lembrar-se que há vida para além das quatro paredes onde trabalham
diariamente. Quero, acima de tudo, que a próxima geração cresça e diga com
orgulho “Eu sou alguém.”. Porque se for assim, será alguém com certeza.
Referências
Marx, K. (1993). O Trabalho Alienado in Manuscritos Económicos Filosóficos. Lisboa: Ed 70.
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