Roland Barthes escreveu diversas “crónicas” e pequenos
textos sobre diversas temáticas. No seu texto “Bichon entre os pretos”,
presenta na coletânea “Mitologias”, aborda um artigo de uma revista da época,
que reportava a viagem a África feita por Bichon e pelos seus pais, dois
artistas que viajavam em busca de inspiração. Na revista, o pequeno Bichon é
descrito como um aventureiro, ídolo, alguém bastante corajoso, por estar a
enfrentar os pretos vermelhos, seres sanguinários e violentos. Esta descrição,
que nos parece ridícula em pleno século XXI, era na altura do artigo uma
realidade evocada quando se pensava em África, era todo um preconceito
infiltrado na sociedade, normalizado, não sendo por isso visto como
escandaloso. Em paralelo com esta situação, décadas mais tarde e em pleno
século XXI, os preconceitos raciais continuam a existir, e apesar da repulsa
que nos é causada pelo artigo em si, estão ainda infiltrados na sociedade
diversos comportamentos que são também incriminatórios de uma mentalidade por
desenvolver. Estes comportamentos podem ser observados sobretudo em sociedades
mais fechadas, mas também em grandes cidades e estados, como nos Estados
Unidos, onde a criminalidade e brutalidade da polícia e dos órgãos de estado
para com as comunidades POC (people of colour) é algo “natural”, que acontece
com demasiada frequência. Para além de isso, existem também diversos
preconceitos xenófobos ainda infiltrados na sociedade, e falta de solidariedade
em relação a refugiados políticos e de guerra. A divisão entre as pessoas e a “superioridade”
da raça branca continuam a ser algo em que muitas pessoas infelizmente
acreditam. A mentalidade de que nos devemos separar e dividir é bastante retrógrada,
para além de escandalosa. Seria interessante observar as reações das gerações
futuras perante a nossa realidade agora, e perceber que muitas das nossas ações
serão provavelmente tão indignas como o artigo sobre o glorificado pequeno
Bichon.
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