O grande pensador
Edward Said apresenta-nos a sua abordagem sobre o conceito de Orientalismo. Said
desenvolveu um lado muito pessoal para transmitir e fundamentar os seus
pensamentos, conceitos e teorias. Após este processo escreveu e publicou, em
1978, o livro “Orientalism”, onde demonstrou ser um especialista sobre o assunto.
Critica o ensino do Orientalismo, pelo facto de o Oriente ser visto pelos povos
do Ocidente, como uma realidade idealizada. Isto pode levar a refletir sobre o
facto de que, apesar de existir muita
informação em livros e documentários sobre o Oriente, isto não significar que
conheçamos bem a sua realidade. Mas os aspetos ideológicos acabam sempre por
ficar subjacentes à identidade.
Imagem Orientalista utilizada na Capa da 25ª Edição do Livro "Orientalism" de Edward Said. Jean-Léon Gérôme. The Snake Charmer. 1880. óleo sobre tela. 84 x 122 cm. |
A ideia de que o Oriente era um
“outro” que representava ameaça desenvolveu-se muito na Europa durante o
período colonial. Os estudos sobre o
Oriente desenvolvidos na Europa, só alcançaram os Estados Unidos da América após
a Primeira Guerra Mundial.
«I wish I could say, however, that general understanding of the Middle East, the Arabs and Islam in the United States has improved somewhat, but alas, it really hasn't. For all kinds of reasons, the situation in Europe seems to be considerably better. In the US, the hardening of attitudes, the tightening of the grip of demeaning generalization and triumphalist cliche, the dominance of crude power allied with simplistic contempt of dissenters and "others," has found a fitting correlative in the looting, pillaging and destruction of Iraq's libraries and museums.» [1]
No meio de todas as ideias
pré-concebidas pelos ocidentais acerca dos orientais, Said acaba por aprofundar
mais o seu conceito de “Orientalismo” acreditando que era uma forma de domínio
dos ocidentais perante os orientais. Tendo sido diagnosticado com uma doença
terminal, sentiu necessidade de deixar para as gerações futuras o seu
testemunho. Por esse motivo, em 1999, Edward Said escreveu o livro “Out of
Place: A Memoir”, onde reflete sobre o seu passado e sente como que uma crise
de identidade pelo facto de ser um cidadão britânico e um palestino nascido no
seio de uma família cristã. Estas várias “identidades” entraram
em litígio e conflito, fazendo com que Said se sentisse “deslocado”:
«There was always something wrong with how I was invented and meant to fit in with the world of my parents and four sisters. Whether this was because I constantly misread my part or because of some deep flaw in my being I could not tell for most of my early life. Sometimes I was intransigent, and proud of it. At other times I seemed to myself to be nearly devoid of any character at all, timid, uncertain, without will. Yet the overriding sensation I had was of always being out of place. Thus it took me about fifty years to become accustomed to, or, more exactly, to feel less uncomfortable with, Edward, a foolishly English name yoked forcibly to the unmistakably Arabic family name Said. » [2]
Poderá dizer-se que a opinião
de Edward Said em relação ao Ocidente estava condicionada ao facto de ele ter nascido
em Jerusalém, mas para mim trata-se mais de uma autobiografia das opiniões que
ele foi construindo ao longo da sua vida, devido às experiências vivenciadas e
educação adquirida, e não a uma questão de ter raízes árabes. «As Said says,
he has "learned actually to prefer being not quite right and out of
place."» [3]
Na sociedade de hoje por mais
“mente aberta” que seja, há sempre o sentimento do “deslocado” por não ser o “normal”,
o “ideal” e o sair fora do estereótipo. Através dos pré-conceitos que se têm do
Oriente podem-se retirar conclusões sobre a sociedade onde vivemos hoje. A questão
do tom de pele acaba muitas vezes por ser uma questão de vida ou de morte, mas
para além disso porque é que muitas
vezes nos sentimos desenquadrados da sociedade? Seremos assim tão diferentes
uns dos outros? Realmente o ser humano em si é um ser inseguro, dependente de
reconhecimento e de aceitação social. Mas o ser-se socialmente aceite é sempre dúbio.
Como podemos saber se alguém está realmente a ser totalmente sincero? Isto
porque as questões sociais, éticas, religiosas e políticas estão sempre em
aberto e em contínua discussão, sem quase nunca se chegar a um consenso geral. Ao
ter lido alguns textos de Edward Said surgem-me novas questões que provavelmente
permanecerão retóricas, porque cada ser humano, devido às situações e vivências
a que é submetido, tem opiniões muito próprias e bastantes diversas das do
outro.
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