quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Irrealidade virtual

Ouvimos, com alguma frequência, dizer que este ou aquele está alienado, distraído, com a cabeça na Lua. Hoje em dia, este fenómeno já é visto como um comportamento normal, muitas vezes incontrolável, consequência direta da preocupação com outras coisas, que não aquela em que estamos envolvidos no momento. A questão que vem associada a este termo, porém, não se prende com a sua individualidade, maioritariamente inofensiva, mas com os resultados que dele advém quando a sociedade na sua coletividade se dobra sobre ele e dele faz o seu machado de guerra, situação já vivida pela sociedade ocidental durante o pós-IGM.
À semelhança desta revolução, que marcou profundamente a cultura ocidental na entrada do século XXI, também a viragem para o novo século nos trouxe uma revolução de mentalidades.
A alienação de que hoje falamos não é a de valores simples quando comparados com a realidade vivida. Abrimos portas para um novo mundo, o da realidade virtual, em que aquilo que nos rodeia são sensações transpostas em símbolos gráficos, e não naquilo que tocamos ou vemos.
O mundo que nos rodeia é agora composto por ecrãs que abrem as portas da internet onde tudo está disponível à distância de um click. A facilidade e a rapidez do acesso a esse mundo traduzem-se numa preferência inerente ao génio humano da pós-revolução industrial. Queremos saber tudo o mais rápido possível, e os mídia tradicionais preteridos pela sua lentidão definham lentamente numa espiral de decadência que os conduz insanamente no vortex do esquecimento. Olhar para o lado custa-nos mais do que olhar para um ecrã, e a realidade esbate-se nas formas da vida virtual. Esta tendência, como qualquer outra vivida pela sociedade massificada, atinge especialmente as camadas mais jovens. As jovens raparigas vivem numa luta diária tentando atingir um ideal perfilhado pelos seus ídolos. Embora este seja um comportamento que impera sociologicamente desde tempos imemoriais, o extremismo da world wide web criou ídolos fantasmagóricos e pôs à sua disposição instrumentos valiosos de manipulação que controlam até a identidade individual de cada um. Programas como o Photoshop e outros que tais, contribuem para a alienação daquelas jovens em especial, pois a imagem vale mais do que mil, e de uma maneira ou de outra ficam alojadas no nosso consciente, onde operam processos drásticos que nos fazem desejar corpos e mentes débeis. A alienação de que aqui vos falamos traduz-se nesta e noutras situações análogas por partilharem a mesma condição que é a preferência por verdades publicamente alteradas em detrimento de um simples acto de olhar para o lado e de constatar que continuamos apesar de tudo rodeados de pessoas verdadeiras e não apenas perfis das redes sociais.

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