Ferdinand de Saussure nasceu
em 1857, na Suíça e morreu em 1913, viveu apenas 56 anos. Saussure desenvolveu um
grande interesse por línguas e apesar de não ter vivido muitos anos, estudou inglês,
grego, alemão, francês, sânscrito, celta e indiano.
O objetivo dele era que a
Linguística fosse definida como uma Ciência, mas para isso era necessário que
se estabelecesse um método. Portanto estudou muito o objeto da Linguística, a
língua. Acabou por dar três cursos de Linguística Geral, na Universidade de Genebra, Suíça:
o primeiro realizou-se em 1907 e teve seis alunos matriculados, o segundo teve
início em 1908 e teve onze alunos matriculados e o terceiro aconteceu em 1910
com doze alunos matriculados.
Como se pode observar, o número de
matriculados não era muito elevado e, tendo em conta que Saussure não deixou
publicações escritas, o que nos chega hoje sobre os seus ensinamentos vem
maioritariamente no “Cours de Linguistique Générale”, escrito pelos seus alunos,
ou seja, é uma “versão contada por terceiros”, uma versão redigida pelos
recetores das suas ideias.
«Je me trouve placé devant un dilemme: ou bien exposer le sujet dans toute sa complexité et avouer tous mês doutes, ce qui ne peut convenir pour un cours qui doit être matière à examen. Ou bien faire quelque chose de simplifié, mieux adapte à un auditoire d’étudiants qui ne sont pas linguistes. Mais à chaque pas, je me trouve arrêté par des scrupules.» [1]
Dentro dos temas que expôs
destacam-se algumas dicotomias, a língua e a fala, a diacronia e a sincronia, o
significante e o significado, e o paradigma e o sintagma. Para Saussure a
unidade mínima de qualquer sistema linguístico é o fonema ou sinal que é composto por um
significante e um significado. O sinal só ganha significado ao fazer parte de
um sistema estrutural de sinais, a linguagem. Ou seja, quando nos falam numa
língua que não compreendemos, o sinal acaba por não existir. Por isso o sinal é
algo em que alguém num determinado momento atribuiu significado. E para se
compreender melhor as suas ideias é essencial perceber os conceitos de significante e significado, que são interdependentes. O significante é a maneira
como o signo é percetível aos nossos sentidos e o significado é uma tradução
mental do signo, o seu conceito. Por exemplo a palavra “árvore”, exemplo dado
na publicação “Cours de Linguistique Générale”, o significante é a
palavra escrita ou dita e o significado é a ideia de árvore.
Esquema explicativo do significante e significado, retirado de "Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale". |
Para Saussure «[…] le
signe linguistique est arbitraire.» [2]. Usando o mesmo exemplo da palavra
portuguesa “árvore”, que em francês é “arbre”, em inglês “tree”, em italino
“albero” e assim consecutivamente, demonstra então que a humanidade ao
exprimir-se em línguas diferentes, utiliza o mesmo significado para
significantes diferentes, daí ser uma relação arbitrária. O ser humano faz ligações entre significantes e significados de uma maneira
que varia consoante as várias culturas.
Sussure
define a Linguística como sendo ou sincrónica
ou diacrónica. A primeira é o que é falado no
instante, são relações lógicas e psicológicas que se estabelecem entre sinais
onde estes se unem formando um sistema; a segunda é mais como um estudo da
evolução da linguagem, são relações que unem sinais sucessivos e que se
substituem uns aos outros sem formar um sistema.
Esquema explicativo da língua e fala; sincronia e diacronia, retirado de "Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale". |
Dois outros conceitos importantes
que Saussure exemplifica são o paradigma,
onde há um conjunto de sinais que aparecem num mesmo contexto, mas que se opõem,
é como um campo de hipóteses possíveis, é como que uma “reserva virtual da
língua”, e o sintagma, em que o
valor do sinal se altera em função de outro sinal com o qual é combinado; um é
mais dinâmico o outro é mais estático, respetivamente.
A língua foi estabelecida como forma de conseguirmos comunicar
e de nos relacionarmos com o outro. É através da fala que a língua vai
evoluindo, por isso o seu estudo é necessário. Sempre houve uma vontade de
criar uma língua universal, daí o inglês ser importante. Mas mesmo assim não
existe uma língua que una todos os seres humanos e na minha opinião acho que
este campo deveria ser um importante investimento a realizar pela espécie
humana.
Através dos ensinamentos e estudos de Saussure,
apercebemo-nos o quanto evoluiu a Linguística, desde o séc. XX até hoje. «[…] le temps altère toutes choses; il n’y a
pas de raison pour que la langue échappe à cette loi universelle.» [3]. Daí, o
que Saussure desenvolveu, ser importante para hoje, séc. XXI, século da
comunicação. E visto que a língua tem vindo a sofrer muitas alterações, é
essencial que exista um método, que existam regras.
A língua é assim algo que define
as nossas raízes, que ainda hoje é passada de geração em geração e que nos
torna parte integrante de uma sociedade. Como escrito anteriormente, é com ela
que interagimos uns com os outros. E poder-se-á fazer a pergunta: então e os
mudos, por não conseguirem falar não integram a sociedade? A resposta é sim,
claro que fazem parte dela. Não é por alguém não ter a capacidade de falar que
não compreende os outros, aliás porque a linguagem gestual é neste caso
utilizada e está associada a uma língua, cada gesto corresponde a uma letra ou
palavra. Tanto a língua como a linguagem estão inerentes à nossa capacidade de
comunicação.
Por isso alguns conceitos do “Cours de Linguistique Générale”
deveriam continuar a ser referido nos dias de hoje, talvez como uma base de
aprendizagem, acrescentando o essencial às mudanças que vão ocorrendo ao longo
dos tempos, na nossa língua.
[1] MEJÍA, Claudia; SANDOZ, C.. Cahiers Ferdinand de Saussure, vol. 58. [edition des notes d'Emile Constantin du Troisième Cours de Linguistique Générale]. 1910-1911. Société Genèvoise de Linguistique. Cercle. 2005. 312 pp.
[2] , [3] BAILLY, Charles; SÉCHEHAYE, Albert; RIEDLINGER, Albert. Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale. 1907-1910. Éditions Payot & Rivages. 1916. 510 pp.
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