sábado, 30 de dezembro de 2017

“Linguistique Générale”

Ferdinand de Saussure nasceu em 1857, na Suíça e morreu em 1913, viveu apenas 56 anos. Saussure desenvolveu um grande interesse por línguas e apesar de não ter vivido muitos anos, estudou inglês, grego, alemão, francês, sânscrito, celta e indiano.

O objetivo dele era que a Linguística fosse definida como uma Ciência, mas para isso era necessário que se estabelecesse um método. Portanto estudou muito o objeto da Linguística, a língua. Acabou por dar três cursos de Linguística Geral, na Universidade de Genebra, Suíça: o primeiro realizou-se em 1907 e teve seis alunos matriculados, o segundo teve início em 1908 e teve onze alunos matriculados e o terceiro aconteceu em 1910 com doze alunos matriculados.

Como se pode observar, o número de matriculados não era muito elevado e, tendo em conta que Saussure não deixou publicações escritas, o que nos chega hoje sobre os seus ensinamentos vem maioritariamente no “Cours de Linguistique Générale”, escrito pelos seus alunos, ou seja, é uma “versão contada por terceiros”, uma versão redigida pelos recetores das suas ideias.

«Je me trouve placé devant un dilemme: ou bien exposer le sujet dans toute sa complexité et avouer tous mês doutes, ce qui ne peut convenir pour un cours qui doit être matière à examen. Ou bien faire quelque chose de simplifié, mieux adapte à un auditoire d’étudiants qui ne sont pas linguistes. Mais à chaque pas, je me trouve arrêté par des scrupules.» [1]

Dentro dos temas que expôs destacam-se algumas dicotomias, a língua e a fala, a diacronia e a sincronia, o significante e o significado, e o paradigma e o sintagma. Para Saussure a unidade mínima de qualquer sistema linguístico é o fonema ou sinal que é composto por um significante e um significado. O sinal só ganha significado ao fazer parte de um sistema estrutural de sinais, a linguagem. Ou seja, quando nos falam numa língua que não compreendemos, o sinal acaba por não existir. Por isso o sinal é algo em que alguém num determinado momento atribuiu significado. E para se compreender melhor as suas ideias é essencial perceber os conceitos de significante e significado, que são interdependentes. O significante é a maneira como o signo é percetível aos nossos sentidos e o significado é uma tradução mental do signo, o seu conceito. Por exemplo a palavra “árvore”, exemplo dado na publicação “Cours de Linguistique Générale”, o significante é a palavra escrita ou dita e o significado é a ideia de árvore.

Esquema explicativo do significante e significado,
retirado de "Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale". 

Para Saussure «[…] le signe linguistique est arbitraire.» [2]. Usando o mesmo exemplo da palavra portuguesa “árvore”, que em francês é “arbre”, em inglês “tree”, em italino “albero” e assim consecutivamente, demonstra então que a humanidade ao exprimir-se em línguas diferentes, utiliza o mesmo significado para significantes diferentes, daí ser uma relação arbitrária. O ser humano faz ligações entre significantes e significados de uma maneira que varia consoante as várias culturas.

Sussure define a Linguística como sendo ou sincrónica ou diacrónica. A primeira é o que é falado no instante, são relações lógicas e psicológicas que se estabelecem entre sinais onde estes se unem formando um sistema; a segunda é mais como um estudo da evolução da linguagem, são relações que unem sinais sucessivos e que se substituem uns aos outros sem formar um sistema.

Esquema explicativo da língua e fala; sincronia e diacronia,
retirado de "Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale".

Dois outros conceitos importantes que Saussure exemplifica são o paradigma, onde há um conjunto de sinais que aparecem num mesmo contexto, mas que se opõem, é como um campo de hipóteses possíveis, é como que uma “reserva virtual da língua”, e o sintagma, em que o valor do sinal se altera em função de outro sinal com o qual é combinado; um é mais dinâmico o outro é mais estático, respetivamente.

A língua foi estabelecida como forma de conseguirmos comunicar e de nos relacionarmos com o outro. É através da fala que a língua vai evoluindo, por isso o seu estudo é necessário. Sempre houve uma vontade de criar uma língua universal, daí o inglês ser importante. Mas mesmo assim não existe uma língua que una todos os seres humanos e na minha opinião acho que este campo deveria ser um importante investimento a realizar pela espécie humana.

Através dos ensinamentos e estudos de Saussure, apercebemo-nos o quanto evoluiu a Linguística, desde o séc. XX até hoje. «[…] le temps altère toutes choses; il n’y a pas de raison pour que la langue échappe à cette loi universelle.» [3]. Daí, o que Saussure desenvolveu, ser importante para hoje, séc. XXI, século da comunicação. E visto que a língua tem vindo a sofrer muitas alterações, é essencial que exista um método, que existam regras. 

A língua é assim algo que define as nossas raízes, que ainda hoje é passada de geração em geração e que nos torna parte integrante de uma sociedade. Como escrito anteriormente, é com ela que interagimos uns com os outros. E poder-se-á fazer a pergunta: então e os mudos, por não conseguirem falar não integram a sociedade? A resposta é sim, claro que fazem parte dela. Não é por alguém não ter a capacidade de falar que não compreende os outros, aliás porque a linguagem gestual é neste caso utilizada e está associada a uma língua, cada gesto corresponde a uma letra ou palavra. Tanto a língua como a linguagem estão inerentes à nossa capacidade de comunicação. 

Por isso alguns conceitos do “Cours de Linguistique Générale” deveriam continuar a ser referido nos dias de hoje, talvez como uma base de aprendizagem, acrescentando o essencial às mudanças que vão ocorrendo ao longo dos tempos, na nossa língua.





[1] MEJÍA, Claudia; SANDOZ, C.. Cahiers Ferdinand de Saussure, vol. 58. [edition des notes d'Emile Constantin du Troisième Cours de Linguistique Générale]. 1910-1911. Société Genèvoise de Linguistique. Cercle. 2005. 312 pp.
[2] , [3] BAILLY, Charles; SÉCHEHAYE, Albert; RIEDLINGER, Albert. Ferdinand de Saussure - Cours de Linguistique Générale. 1907-1910. Éditions Payot & Rivages. 1916. 510 pp.

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