Para dizer a verdade, eu não tinha planos de abordar este tema. É claro que acho
que é um tema importante e do qual devemos dialogar, eu apenas estava a planear falar de consumismo nesta época natalícia. Mas no dia 24, quando estávamos todos a abrir presentes, o meu primo recebe um novo carinho, daqueles de montar, incluindo os circuitos eléctricos. Quando eu perguntei se ele queria ajuda minha para montar o carrinho ele responde com o clássico: “Mas as meninas não gostam de carros. Isso é coisa para rapazes.”
Provavelmente eu não me deveria ter me sentido tão insultada com esta frase. Ele disse isto sem intenção e no final ele aceitou a minha ajuda e montámos o carro os dois. No entanto a forma como ele falou deu uma ideia de certeza, ou de facto. Tal como refere John Fiske: “A naturalização da ordem existente faz com que ela pareça universal e, consequentemente, imutável (como a natureza);” Ou seja, o meu primo apenas estava repetir aquilo que lhe tinham ensinado como sendo verdade.
Eu tenho sorte de ter tido pais que nunca restringiram com que brinquedos deveria brincar enquanto crescia, mas tenho noção que isto não é o normalmente acontece. A sociedade tem expectativas para aquilo que uma rapariga, ou um rapaz, deviam ou não fazer, com o que devem ou não brincar. Ainda me lembro dos anúncios de brinquedos que passavam na televisão na altura do Natal. Eram sempre o mesmo formato: Para rapazes explosões, movimento e azul. Para meninas suavidade, florzinhas e cor de rosa.
Marketing destinado ao género não é nada de novo e sem dúvida acontece para além de brinquedos, mas a verdade é que dá lucro. Separar os consumidores em parcelas mais pequenas, faz com que possam vender mais versões do mesmo produto. Para tal, os produtos utilizam a cor, o formato e textura do packaging, o logo e as fonts letra utilizadas e até as secções das lojas em são colocados. Este tipo de separação de consumidores chega até ao ponto em que as pessoas chegam a recusar comprar um produto se este não for publicitado para o seu género. Isto acontece mais frequentemente com homens. É ainda mais ridículo quando alguma das varrições de produto destinado a um determinado género custa mais do que o outro. Por exemplo giletes para mulher que são mais cara do que as dos homens
Agora voltemos ao carrinho que causou toda esta questão. Na caixa e no manual de instruções não especifica o género da criança a que é destinada, mas as ilustrações demonstram sempre rapazes a brincar com o produto. Depois de pesquisar pela marca
do brinquedo e observar, de uma forma geral, a restante linha modelos é possível ver
com facilidade a separação por género. Por exemplo toda a secção a que eles chamam “brinquedos de cosmética" mostra claros sinais de marketing para meninas. É suposto os rapazes não gostarem de sabão, pasta de dentes ou de velas?
Este tipo de separação ajuda a perpetuar as expectativas sexistas que a sociedade tem de nós, gender roles, começando desde crianças com brinquedos e mantendo-as ao longo da nossa vida com uma imensidão de outros aspectos.
Finalmente, para fechar a questão, existe alguma forma de combater estes hábitos? Sim. É muito simples na verdade: basta ignorar ao máximo o que o marketing nos tenta impingir e tentar perguntarmo-nos de vez em quando “Será que estou a comprar isto especificamente porque é destinado ao meu género?” E deixem as crianças brincar com o que elas quiserem, bonecas ou carrinhos, cor de rosa ou azul. No final do dia brinquedos são brinquedos.
Referências:
John Fiske (1993) Introdução ao Estudo da Comunicação, Porto Edições: Asa
The Checkout | GENDERED MARKETING, publicado a 17/04/2014 (link)
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