quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O Estilo Manuelino e o Orientalismo Português

O Estilo Manuelino e o Orientalismo Português

O intelectual palestino radicado nos EUA, Edward Said, no seu livro "Orientalism" publicado em 1978, salienta a visão inventada pelo Ocidente de um Oriente misterioso e prodigioso, estereótipos estes, que permaneceram e através dos quais vemos o Oriente como fonte de mistério, corrupção, sensualidade ou (paradoxalmente), iluminação espiritual. O chamado "mundo civilizado", está pois, fascinado por um Oriente distante e desejado que integra o imaginário do homem ocidental. Este estatuto adquirido de inequívoca superioridade do "homem branco", é aqui desmistificada por Edward Said, que mostra como essa representação dos povos orientais foi importante para a própria definição da identidade ocidental, na legitimação de seus interesses colonialistas, e que marcou o imperialismo entre os séculos XIX e XX. Até essa altura, o estudo ocidental desta temática, a sua burocracia e controlo sobre o Oriente tornaram virtualmente impossível aos ocidentais verem as coisas como elas realmente se apresentavam, sendo vistas pelo contrário, como tinham sido previamente moldadas e definidas pelo discurso ocidental. Tudo isto se apresenta como um produto dos estreitos laços históricos e coloniais que ligam o Oriente ao Ocidente através dos tempos.
O Orientalismo, é pois, uma construção do Ocidente.
Nas diversas representações ao longo dos últimos séculos, deste oriente fantasioso e idealisado, temos como destacado exemplo, o estilo aquitectónico exclusivo português, tardo-gótico ou flamejante, conhecido de todos como " Estilo Manuelino". 
Nasce dos lucros imensos do comércio de especiarias, com as navegações para o Oriente nas primeiras décadas do século XVI, e que fizeram crescer a burguesia comercial, enriquecer a nobreza, permitindo luxos e o cultivar do espírito. É assim denominado por ter sido no reinado de D.Manuel I (1495 - 1521), que a construção da maioria dos edifícios foi iniciada. Portugal floresceu. 
Reflexo inequívoco ornamental das grandes expedições marítimas e dos encontros com outras culturas, distingue-se pela decoração luxuriante, com motivos naturalistas marinhos, cordas e uma rica variedade de animais e motivos vegetais. As suas inúmeras formas evocam o oceano e as viagens intercontinentais onde se misturam elementos do cristianismo com conchas, cordas, estranhas formas aquáticas fantasistas, corais, nautilus, algas, sereias, nós de marinheiro, redes, correntes, tudo coroado por símbolos heráldicos ou religiosos, como por exemplo as esferas (meias esferas e armilares), o Escudo Nacional e a Cruz da Ordem de Cristo que são também símbolos característicos. Remonta, como se verifica, ao crescente gosto pelo exotismo, que se vinha manifestando desde o início da expansão. O primeiro edifício conhecido neste estilo, é o Mosteiro de Jesus de Setúbal de (1490-1510) do arquitecto Diogo Boitaca, considerado um dos seus criadores e a que só mais tarde se denominou de "manuelino". Este estilo é essencialmente ornamental e exuberante, afastando-se do gótico seu predecessor, e é também, de uma certa forma, responsável pelo desenvolvimento tardio em Portugal do classicismo do Renascimento que à época florescia já por toda a Europa.
Referências: 

Wikipédia;
Said, Eduard - Orientalismo- 1978;

Atanázio, M.C.Mendes - A Arte do Manuelino, Editorial Presença, 1984;
Pereira, Paulo - Decifrar a Arte em Portugal, Idade Média, Círculo de Leitores; 
Pereira, Paulo - História da Arte Portuguesa, Círculo de Leitores;

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