O meu primeiro contacto com a obra de Arjun Appadurai surge através da Bienal Experimenta Design 2017 Before & Beyond, que marcou o fecho da mesma. Assumindo um carácter retrospetivo, esta última edição visou revisitar algumas temáticas lançadas em anos anteriores. Appadurai marcou presença com o tema No Borders (Sem Fronteiras). O seu discurso sobre a globalização centra-se, sobretudo, numa tentativa de compreensão de como este fenómeno tem afetado e influenciado a vida humana na modernidade, acreditando que o seu maior impacto se tem exercido na cultura. O sua obra despertou-me interesse devido à sua originalidade e tremenda atualidade, mais especificamente, na sua definição de cultura e subsequentemente na sua relação com a cultura visual e com os estudos culturais marxistas.
Ao definir cultura, urge a necessidade de fazê-lo num contexto atual, caracterizado por um constante fluxo de pessoas e mercadorias, onde o rompimento de fronteiras tem vindo a impedir que a cultura esteja confinada a um espaço físico e geográfico delimitado. Appadurai propõe cinco dimensões (paisagens) de fluxos culturais a nível global, que se caracterizam da seguinte forma:
etnopaisagens: migração de pessoas entre culturas e fronteiras que se constituem num mundo em constante deslocamento;
tecnopaisagens: interações e intercâmbios culturais através do poder da tecnologia — que permite transpor fronteiras antes impenetráveis — ocorrem agora a velocidades sem precedentes;
financiopaisagens: trata-se da paisagem mais imprevisível, a disposição do capital global e local (mercados e bolsas) altera-se mais rapidamente do que nunca;
mediapaisagens: aproxima-se da noção de cultura visual, i.e., constituem-se enquanto vastas coletâneas de imagens e narrativas que são disseminadas por espectadores de todo o mundo;
ideopaisagens: fortemente relacionadas com as mediapaisagens, são repertórios de imagens utilizados pelas nações para construir um discurso ideológico.
Apreende-se, portanto, que estas cinco fluídas paisagens — intrinsecamente conectadas entre si —contribuem para a construção de múltiplas realidades, uma vez que uma narrativa ou imagem se altera segundo o contexto do seu espectador. Estas múltiplas narrativas sugerem, ultimamente, a existência de um "mundo imaginado”. Questiona-se então: De que modo actuam estas construções imaginárias e virtuais sobre a produção de localidade? De que forma é que a identidade do humano se molda na sua relação com a emergência de “bairros virtuais”?
“A imaginação está agora no centro de todas as formas de ação, é em si um facto social e é o componente-chave da nova ordem global. (…) Vivemos em mundos imaginados, e não apenas comunidades imaginadas.“
Lista de Referências
[1] Appadurai, A. 2004. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa, Teorema. 304 pp.
[2] M. Hogan, A. (2010). Appadurai's 5 -scapes. Amherst College. Disponível em: https://www.amherst.edu/academiclife/departments/courses/1011F/MUSI/MUSI-04-1011F/blog/node/229354
[3] Robinson, A. (2011). An A-Z of theory Arjun Appadurai. CeaseFire. Disponível em: https://ceasefiremagazine.co.uk/in-theory-appadurai/
Rita Russo | 10652 | Design de Comunicação
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