terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O perfeito da imperfeição

«Nós sabemos não através do nosso intelecto, mas através da nossa experiência.»
Mearleau Ponty



Uma resenha aos quadradinhos, de autoria própria, que explora dois pontos de vista extremos sobre como podem ser encaradas as crenças ideológicas. Um assume a omnipotência do individuo, ele é livre de acreditar naquilo que quer acreditar. Outro assume a sua impotência, ou seja, o individuo nada tem a ver, a não ser ex post facto, com aquilo em que acredita. Assume-se a perspetiva fenomenológica como fonte do saber. Parte-se do postulado hegeliano de que o progresso do Espirito se faz por meio da superação da consciência representativa que assinala a exterioridade da substância, o em si ainda não desenvolvido. Do em si passa-se ao para si, a manifestação do Conceito, o «homicídio» do Tempo, e a efetivação do Saber Absoluto. Defende-se o retorno da diferença à identidade. Dito de outra forma, interpreta-se de uma forma light a diferenciação enquanto movimento de Outro de retorno ao Mesmo, como auto explicitação do Mesmo por meio de Outro. Avoca-se que todas as palavras são grandezas negativas, ou seja, é o que as palavras não são que as determina. A significação brota do entre palavras, diria Saussure. O valor emerge do intricado tecido das palavras alinhadas, diríamos nós. Tal como a palavra sozinha é vazia sem o sistema que a alimenta virtualmente, na doutrina saussuriana, acredita-se que o individuo partilha com a linguística o principio da vacuidade do sentido em si, ganhando valor não por aquilo que é (dado que tem a qualidade de não ser nada em si mesmo), mas por aquilo que os outros elementos do seu sistema não são. Nesta ótica, no entre cria-se abertura para o ente. Desmorona-se a construção ideológica das massas assente no juízo de valor (bom versus mau). Entende-se tudo o que é como o estritamente necessário para o que tem de ser.

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