Hoje em dia e cada vez mais podemos estabelecer sem dificuldade um paralelismo entre os princípios enunciados por Karl Marx em “O trabalho Alienado” e as condições de trabalho em indústrias de massas, como é o caso da indústria da moda.
Por ser exigido um número tão elevado na produção de bens, que consiga servir a sociedade de consumo em que vivemos, os trabalhadores tornam-se “mercadorias” cada vez mais baratas. As grandes empresas procuram locais onde a mão-de-obra seja barata. Isto gera um efeito dominó em que as fábricas se vêm obrigadas a vender produtos por muito pouco dinheiro (caso contrário não serão contratadas) e os salários dos seus trabalhadores tornam-se inevitavelmente medíocres.
Marx defende que valorização dos bens de consumo (do “mundo das coisas”) aumenta proporcionalmente com a desvalorização do “mundo dos homens”. Isto é perfeitamente visível na Indústria da moda, em que os trabalhadores das fábricas chegam a ter que se sujeitar a salários de 2$ por dia. Mais concretamente, podemos olhar para o desastre de Runaplaza, em Bangladesh no ano de 2013, em que o edifício de uma destas fábrica ruiu e cerca de 1000 trabalhadores morreram, depois de terem sido apresentadas e ignoradas várias queixas relativas às condições do edifício.
Os trabalhadores dos países subdesenvolvidos vêm-se forçados a aceitar trabalhos com condições desumanas, com vista à sua sobrevivência. Assim ocorre a “culminação da servidão” enunciada por Marx: o sujeito só pode existir como sujeito físico enquanto trabalhador. Torna-se servo do objeto que produz.
Nas condições apresentadas, o trabalhador precisa de produzir em massa, acabando por se esgotar cada vez mais a si mesmo, e tornando-se o produto do seu trabalho um objeto estranho e impessoal, exterior a si. Ao criá-lo torna-se mais pobre na sua vida interior.
Quanto maior é o produto, quanto mais são as exigências da sociedade de consumo e quanto mais esta indústria aumenta, mais o Homem, neste caso principalmente os trabalhadores destas fábricas, se diminui. São forçados a viver e trabalhar em condições desumanas - “A realização do trabalho aparece como desrealização do trabalhador.”
Referências bibliográficas:
Marx, Karl. O Trabalho Alienado, 1993, Lisboa, Ed 70.
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