A depravação sexual pode ser entendida de
várias formas. A mim remete-me à idolatria do sexo. A sociedade faminta por prazer
procura refeições invés de relações e assim, tudo é tão efémero e vazio como um
almoço que nos sacia durante duas horas. Os corpos já não são alma, já não são
corpos e nem mesmo objetos. São alimentos descartáveis de uma cozinha qualquer.
Trata-se de mais do que uma alienação, mas
há sem dúvida um despreendimento do ser face, não só à sua materialidade própria,
mas também genérica. O corpo é colocado num pedestal independente e alheio à criatura
que o conduz e que passa a ser, por sua vez, conduzida pelas necessidades e
desejos da sua forma, apetites esses que são projeções idílicas das consciências
que a rodeiam e que se baseiam na sua vida guiada também pela matéria particular.
Entra-se desta forma num ciclo de apatia espiritual e idolatria apenas daquilo
que é terreno e mundano.
Fala-se numa crise de valores de toda a
ordem, numa perda de capacidade refletiva, numa transferência de significados e
coloca-se um termo no conceito de identidade individual. Não restam palavras
puras no léxico de nenhum idioma e nenhuma esperança em qualquer texto crítico
escrito na sociedade contemporânea. Caminhamos vertiginosamente para a catástrofe
no olhar de todos os psicólogos, psiquiatras e psicanalistas de café. Isto é
unânime, aproxima-se o fim enquanto nos afastamos cada vez mais da natureza
humana. A origem do dano, essa já varia consoante as consoantes, mas as
lamentações são sempre as mesmas. Típicas e tristes lamentações. Triste e
ridiculamente típicas. Lamentável e tipicamente ridículas. Todas elas
culminadas na abstração do significante do significado de “eu”.
Apenas carne querem, apenas carne têm.
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