sábado, 23 de dezembro de 2017

O TRABALHO ALIENADO EM ÉPOCA NATALÍCIA


Não é novidade a privação de vida familiar, pessoal, e até mesmo emocional que as grandes firmas nacionais infligem aos seus funcionários; este fenómeno, relativamente recente, ter-se-á agravado gradualmente nos últimos anos, acompanhado de um ritmo vertiginoso de vendas que precede, ou chega até mesmo a coincidir com datas tidas como de grande valor sentimental ou familiar - Natal, Páscoa, passagem de ano -, tudo isto acompanhado da crença firme que vincou em tempos de crise que mais horas de trabalho geram maior riqueza e produção.
 Este esquema é apenas uma tradução real da previsão que Karl Mark fez em "O Trabalho Alienado", na medida em que, a vida pessoal/genérica daquele que trabalha é relegada para segundo plano, sendo o produto do trabalhador o elemento de maior relevância, tornando-se este último o regedor da vida do seu criador.
Essa é, portanto, uma das razões para a abertura de lojas e grandes superfícies em época natalícia (entre outras), que parece perder cada vez mais o estatuto de "período sem trabalho" para agradar à dinâmica comercial que envolve esta época festiva. É da menor importância o número de horas daquele que trabalha na época de Natal face às necessidades consumistas que estão vinculadas a esta data na sociedade contemporânea: aquilo que realmente importa - na visão política e comercial que muitas lojas adotam - é fazer com que o objeto final chegue ao consumidor, ignorando o possível esgotamento do trabalhador ou a liberdade festiva do mesmo.
O homem fica, portanto, escravo de um sistema comercial que inicialmente criou, e que muito rapidamente cresceu para além dos moldes previstos inicialmente, fazendo do trabalhador um mero peão, totalmente substituível, num esquema extremamente competitivo. O trabalhador, por sua vez - o mesmo que teve inicialmente a liberdade física e intelectual para criar o trabalho que agora o domina -, vê-se forçado a compactuar com algo que acabou por se tornar inibidor da liberdade pessoal de cada um que trabalha, uma vez que um incumprimento destes horários ou calendários leva a um despedimento - um claro convite à saída do sujeito de todo o sistema, tanto no papel de trabalhador como no papel de "comprador" do trabalho de outrem.
Esse medo leva a que muitos trabalhadores que são explorados pelo seu próprio trabalho acabem por não reivindicar a sua liberdade de celebração e de tempo pessoal e familiar, apoiados na crença da sua substituibilidade e falta de relevância em relação ao trabalho que produzem.

Referências

- Karl Marx (1993) "O Trabalho Alienado" in Manuscritos Económico Filosóficos. Lisboa: Ed. 70.

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