Narrado pelo protagonista, Room começa com o som de uma respiração, e imagens de vários
objetos que nos vão sendo reveladas. O espaço que nos é apresentado através
delas, é a “casa” de Jack, um rapaz de cinco anos, e da sua mãe, Ma, uma mulher de 24 que, aos 19, foi
violada.
A tal “casa”, não é nada mais, nada menos, que uma
pequena barraca, com 11 metros quadrados, a que os dois deram o nome de Quarto
(Room). Embora Jack não saiba, o sítio onde ele se sente completamente seguro e
protegido, é também a prisão onde a mãe tem sido mantida contra a sua vontade.
O Quarto, e todas as coisas que dele fazem parte, é o que
Jack conhece. Para ele, aquele quarto é o mundo inteiro. Graças à forma como o
espaço é filmado, permitindo-nos ter uma visão atenta e detalhada, aproximada,
mas ao mesmo tempo transmitindo-nos a ideia de profundidade, somos capazes de
nos enquadrar naquele ambiente e senti-lo tão grande quanto ele é para Jack. Prestando
atenção à forma como o filme se desenvolve e é apresentado, pelo menos
inicialmente, é-nos muito mais transmitida a ideia de conforto e inocência
tranquila (de Jack), do que propriamente a claustrofobia e terror sentidos pela
sua mãe.
De alguma forma, Ma
foi capaz de tornar aquilo que é o seu inferno, num “conto de fadas”, fazendo
Jack acreditar que a vida que levam é excelente, e que nada mais existe para
além daquele quarto. Não tendo escolhido ser mãe, Ma desempenha um excelente papel como tal, pondo em primeiro lugar
a segurança e o bem estar do filho, mesmo tendo em conta as condições que lhe
são impostas.
Estando cinematograficamente muito bem caracterizado, é
incrível como este filme que derivou do romance de Emma Donoghue, nos consegue
transmitir tão realisticamente a realidade de uma criança que tão pouco
conhece. De facto, se não nos fosse apresentado o mundo como o conhecemos,
razões nenhumas teríamos para acreditar que aquele em que habitamos existiria
desta forma ou de outra. “Ver para crer”, não é o que se diz? E também Jack,
cego para com o exterior, não acreditou quando a sua mãe lhe explicou que
aquele pequeno mundo era apenas uma parte minúscula do mundo real que ele
desconhecia.
Ma: The world is so big, it’s so big you wouldn’t even believe it! And Room is just one stinky part of it!
Jack (angry): Room is not stinky, I don’t believe in your
stinky world!!!
Jack é tão ingénuo quanto os prisioneiros da Alegoria da
Caverna que toda a sua vida estiveram acorrentados e presos a uma realidade
incrivelmente díspar da do mundo exterior. Tal como o prisioneiro que não
acreditou no fogo, quando Jack experienciou o verdadeiro mundo, tomou-o como um
novo planeta, e não como algo que afinal sempre fora verdadeiro, mas que
estivera escondido.
O mundo em que nascemos e em que somos enquadrados
durante a nossa vida, é aquele que tomamos como nosso e que nos torna quem
somos. É o ambiente que nos envolve que nos forma e a maneira como
desenvolvemos o nosso psíquico. Talvez Jack não “sonhasse” tanto se fosse um
rapaz como os outros, talvez a sua imaginação não fosse tão crucial quanto foi
para a sua vida. A verdade é que, graças à sua mãe, Jack foi capaz de construir
um mundo só dele, onde era feliz e onde todos os objetos eram seus amigos.
Acho particularmente interessante, a forma como este
filme nos dá a entender o paralelo existente entre liberdade exterior e
interior. Os limites físicos foram ultrapassados, e apesar de estar
completamente fechado num espaço pequeníssimo, Jack foi capaz de ser livre e
feliz na sua inocência. Já Ma, como
sabia aquilo que lhe estava a ser privado, sentiu necessidade de lutar pela sua
liberdade. A verdade, é que não desejamos o que não conhecemos. Quem não sabe,
é como quem não vê.
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