"O trabalhador relaciona-se com o produto do seu trabalho como a um objecto estranho (...) quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, tanto mais poderoso se torna o mundo dos objectos, que ele cria perante si, tanto menos pertence a si próprio." Marx, 1993.
Vivemos numa sociedade de consumo, criada no século XX e arrastada até aos dias de hoje. Após a 2ª Revolução Industrial, a crescente urbanização na Europa e nos EUA começou realmente a fazer-se notar: a população europeia duplicou (apesar da emigração), o poder aquisitivo dos trabalhadores aumentou, as indústrias de bens de consumo ampliaram a sua produção.
Em 1908, Henry Ford produz em massa pela primeira vez um produto considerado de luxo - O Ford T. Hoje em dia, poucos são os bens que não são produzidos em massa.
Actualmente, a nossa capacidade de produção de bens e serviços é tão elevada que o consumo massivo dos mesmos cresce exponencialmente a cada dia que passa. Economia, Mercado, Consumo, Negócio, Comprar, Profit, Target Market, Luxo. São estas algumas das palavras que regem o dia-a-dia da nossa sociedade, onde o equilíbrio é encontrado através da oferta e da procura da livre circulação de capitais, produtos e pessoas (sem intervenção do Estado) chegando por fim ao conceito de Capitalismo.
Esta necessidade permanente de consumo de bens, provém de factores sociais e principalmente culturais. Desde cedo somos ensinados a "armazenar" dinheiro para o gastar em coisas de que realmente não precisamos; somos obrigados a estudar desde cedo determinadas áreas do conhecimento, especialmente as científicas, visando um futuro promissor num curso superior bem cotado. São deixadas de parte as áreas pouco lucrativas, pouco "comercializáveis" como é o caso da Pintura e da Música. Trabalhamos desalmadamente por um objectivo, a estabilidade financeira, e esquecemos por completo a nossa estabilidade emocional. Trabalhar, Ser promovido, Trabalhar, Ganhar dinheiro. A felicidade torna-se secundária ao Homem. O trabalhador produz-se como mercadoria.
Um dos mais representativos exemplos do supra-consumismo de que hoje se fala são as chamadas "Black Fridays". Black Friday é o nome que se dá, desde 1952, ao dia após o Dia de Acção de Graças, devido à enorme afluência de compradores nas lojas. Na altura, tal foi o caos, os acidentes e a violência que ocorreram, que passou a ser visto como um "dia negro", tal como a Black Thursday (24 de Outubro de 1929, dia em que se iniciou a Grande Depressão). Em 2017, segundo o The Balance, a média de gastos por comprador na Black Friday ronda os 967 dólares, um aumento de 200 dólares em relação à edição de 2007.
O excesso de oferta e o consecutivo excesso de procura criaram o mundo caótico em que vivemos, especialmente na época natalícia. O Natal, inicialmente um feriado religioso cristão, marca o início do Ciclo de Natal (tendo este 12 dias de duração) que termina no Dia de Reis. A troca de presentes e cartões, a Ceia de Natal, as músicas natalícias, as decorações, e principalmente, a partilha deveriam diferenciar este feriado dos outros. Actualmente, o Natal destaca-se pela época de maior consumo de bens, chegando esta época a representar entre 30 e 40% das vendas anuais na maioria das empresas. Multidões invadem as lojas e atropelam-se em busca do presente perfeito, mais caro ou mais raro. As crianças fazem listas intermináveis de brinquedos de que "precisam" e pelos quais, caso não os recebam, têm o direito de chorar. Há uma diferença entre o produto consumível e o não consumível (ex: caixa de chocolates Vs saco de pano): mesmo que a intenção de quem dá seja igualmente boa, o produto consumível é sempre inferiorizado pois é finito. Existe uma necessidade insaciável de obter bens materiais e de os comparar com os de quem nos rodeia.
O Homem encontra-se alienado, absorvido pelo capitalismo. Põe a sua vida nos objectos. Torna-se mais pobre quanto mais riqueza produz, isto é, quanto mais ele produz menos pode possuir, submetendo-se assim ao domínio do seu próprio capital. Como poderíamos inverter este crescente processo de Alienação?
A educação e a consciência dão-se no berço, portanto, um exemplo prático para alterar este pensamento seria a renovação dos valores transmitidos às crianças. No Natal, a pergunta a fazer-lhes seria "o que queres dar este ano?" e não "o que queres receber?". Assim, uma pequena alteração na palavra poderia fazer uma notável diferença. Mais uma vez, surge como solução o valor da Língua.
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