Politicamente, a Catalunha constitui-se como uma das 17 comunidades autónomas que formam o Reino da Espanha, cujo governo central, em Madrid, pode conceder ou retirar poderes das autoridades locais. Os catalães possuem um presidente e um parlamento próprio, que podem aprovar leis e até constituir forças de segurança civis.
Embora existam causas históricas e económicas que ajudam a explicar a razão pela qual tantos catalães desejam a independência, estes sempre cultivaram uma cultura própria, especialmente assente na sua língua. Mesmo a oposição ao governo franquista passou por estes reprimirem a cultura e o idioma em locais públicos.
Nos últimos dez anos, porém, o separatismo voltou com força. Os líderes com discurso nacionalista foram ganhando espaço na política local. Leis e consultas públicas foram feitas para manifestar o desejo de independência, até que, em 2015, uma ampla coligação de partidos, liderada pelo destituído presidente Carles Puigdemont, elegeu-se com a promessa de fazer da Catalunha um estado independente.
Acabaram por proclamar essa independência assente num referendo não reconhecido por Madrid. O governo foi perseguido e destituído. Marcaram-se novas eleições.
Estas decorreram de forma intensa e histórica e após a contagem dos votos verificou-se que os não-separatistas tiveram a maioria dos votos, mas não a maioria no parlamento.
Um partido constitucionalista e pró-Espanha unida, o Ciudadanos, ficou à frente, mas os partidos separatistas podem formar governo e continuarem a alimentarem o movimento independentista.
Algo parecido com o que fez a "esquerda" portuguesa!
O processo de rutura unilateral era o modo de os separatistas compensarem o carácter autoritário do Estado espanhol, mas falta uma clara maioria e um amplo consenso na Catalunha a favor da separação.
Será difícil aos separatistas retomarem o mesmo processo golpista que estavam a seguir para tomar o poder na Catalunha. No entanto, este movimento não pode ser ignorado... metade dos habitantes da Catalunha deseja a independência.
As consequências da vitória de um movimento separatista pode encorajar outros nacionalismos europeus. A Escócia e a Córsega que desejam a independência do Reino Unido e da França, respetivamente, podem fortalecer as suas causas. O próprio País Basco, embora tenha deixado de lado a resistência armada, pode voltar a tentar uma separação.
Eventualmente haverá uma revisão profunda do estatuto das regiões autónomas, aliás já prometida em Madrid, no sentido de um maior federalismo e com enquadramento europeu, ambos a referendar pelos respetivos eleitorados. Assim, uma Europa das regiões, com a sua personalidade já hoje reconhecida, ganharia ao mesmo tempo uma visibilidade e um peso suscetíveis de responder às reivindicações autonomistas e mesmo soberanistas que nunca deixarão de existir num continente tão antigo, dividido e carregado de ideologias como é a Europa.
Não será um caminho curto nem imediato mas mostraria, superada a crise atual, as possibilidades europeias efetivas da subsidiaridade, bem como de um federalismo suscetível de superar enganosas exigências soberanistas, como aquelas que o Brexit tem vindo a revelar cada dia que passa para mal do «reino desunido». Por paradoxal que isso pareça, a Europa pode e deve ser o caminho mais curto para a União e não é por acaso que o alegado «soberanismo de esquerda», representado na Catalunha pela CUP e em Portugal pelos apoiantes do atual governo socialista, está disposto a aliar-se com o «diabo» para destruir a UE e reconduzir-nos ao isolacionismo.
Não será um caminho curto nem imediato mas mostraria, superada a crise atual, as possibilidades europeias efetivas da subsidiaridade, bem como de um federalismo suscetível de superar enganosas exigências soberanistas, como aquelas que o Brexit tem vindo a revelar cada dia que passa para mal do «reino desunido». Por paradoxal que isso pareça, a Europa pode e deve ser o caminho mais curto para a União e não é por acaso que o alegado «soberanismo de esquerda», representado na Catalunha pela CUP e em Portugal pelos apoiantes do atual governo socialista, está disposto a aliar-se com o «diabo» para destruir a UE e reconduzir-nos ao isolacionismo.
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