sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Gordon Matta-Clark (1943-1978) Splitting, cutting, writing, drawing, eating



Tive a sorte de ir conhecer obras de Gordon Matta Clark numa exposição da Culturgest.
Este artista tem um legado que sai completamente do normal pela escolha dos suportes em que trabalha, pelo facto de apenas recortar, pela relação espacial que tinha com elas mas também temporal; pelo tempo de vida que tinham as suas obras. A exposição, na minha opinião, consegue levar o espetador a acompanhar o momento da experiência, o instante da criação de Matta Clark. Acredito que permite ao espetador retirar muito mais das obras expostas, pois participa um pouco melhor no processo, desde a inspiração à realização.

O “barro” do artista são edifícios, edifícios abandonados. Um escultor escolhe um material e tenta dar-lhe o seu espaço, dar-lhe voz, e Matta Clark recortando pedaços das casas dava-lhes todo um novo significado, o de peça de arte, de escultura. O recorte é um elemento muito leve, que joga com a luz e a exposição acompanhava esta leveza que advinha da força e violência do serrar, e remover. (Um dos meus toques preferidos foi a forma como as fotografias da obra Bingo estavam expostas lado a lado a formar uma panorâmica com um aspeto “manual” tão semelhante ao gesto violento mas simultaneamente delicado do Gordon Matta Clark.) As fotografias da exposição incidiam especialmente nas entradas de luz. Permitiam perceber a brincadeira que Gordon Matta Clark provocava entre o cheio e o vazio, a luz.


Um aspeto muito curioso foi o de que em vários dos projetos, o artista desenhava apenas sobre o próprio edifício, sem isto ser precedido por nenhum esboço. Isto revela de casualidade na intuição, de simplicidade do ato criativo. E a exposição ecoava desta simplicidade e “cleanness” por não recorrer a muitos estímulos, cores, provocações.
Outro elemento relevante na expressão de naturalidade foi a forma como estavam expostas de forma linear, meio desestruturada as curtas espontâneas anotações, ideias, reflexões, (entre outros documentos escritos como correspondências), do artista.

Também achei importante que o espetador se pudesse imaginar na situação, no momento do processo. Um vídeo, que apesar de ser a filmagem da única obra que não foi realizada num edifício mas sim numa árvore (consistia em pessoas penduradas em redes a cair da árvore) dava especialmente ao espetador a perceção do forte envolvimento espacial, da presença física do artista nos seus edifícios, com as suas matérias-primas. 
E muitas outras obras que foram apresentadas através de vídeos, ou de fotografias e que assim nos mostravam o próprio artista em ação, a estar no local da sua criação, contribuía para essa perceção. 
A questão da efemeridade da obra também teve eco nos vídeos, em que se acompanhava um momento, um processo, um processo que se arrastava mas que estava a ser vivido intensamente porque estava prestes a terminar. (O vídeo de uma das obras em especial filmava a própria demolição da casa...!)E imagino que isso aproxime o espetador da realidade do artista e que este portanto possa procurar, um pouco melhor, percebê-lo.


Achei que apesar de todas as mais-valias que havia em que as obras fossem apresentadas em vídeos achei que teria sido preferível ter colocado fotografias retiradas dos vídeos (“screenshots”) a acompanhar estes vídeos, para que o espetador pudesse observar com mais detalhes as várias fases da obra resultado.

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