Tive a sorte de ir conhecer obras de
Gordon Matta Clark numa exposição da Culturgest.
Este artista tem um legado que sai
completamente do normal pela escolha dos suportes em que trabalha, pelo facto
de apenas recortar, pela relação espacial que tinha com elas mas também temporal;
pelo tempo de vida que tinham as suas obras. A exposição, na minha opinião,
consegue levar o espetador a acompanhar o momento da experiência, o instante da
criação de Matta Clark. Acredito que permite ao espetador retirar muito mais
das obras expostas, pois participa um pouco melhor no processo, desde a inspiração
à realização.
O “barro” do artista são edifícios, edifícios abandonados.
Um escultor escolhe um material e tenta dar-lhe o seu espaço, dar-lhe voz, e Matta
Clark recortando pedaços das casas dava-lhes todo um novo significado, o de
peça de arte, de escultura. O recorte é um elemento muito leve, que joga com a
luz e a exposição acompanhava esta leveza que advinha da força e violência do
serrar, e remover. (Um dos meus toques preferidos foi a forma como as
fotografias da obra Bingo estavam expostas lado a lado a formar uma panorâmica
com um aspeto “manual” tão semelhante ao gesto violento mas simultaneamente
delicado do Gordon Matta Clark.) As fotografias da
exposição incidiam especialmente nas entradas de luz. Permitiam perceber a
brincadeira que Gordon Matta Clark provocava entre o cheio e o vazio, a luz.
Um aspeto muito curioso foi o de que em vários
dos projetos, o artista desenhava apenas sobre o próprio edifício, sem isto ser precedido por nenhum esboço. Isto revela de casualidade na intuição, de
simplicidade do ato criativo. E a exposição ecoava desta simplicidade e “cleanness”
por não recorrer a muitos estímulos, cores, provocações.
Outro elemento relevante na expressão
de naturalidade foi a forma como estavam expostas de forma linear, meio
desestruturada as curtas espontâneas anotações, ideias, reflexões, (entre
outros documentos escritos como correspondências), do artista.
Também achei importante que o
espetador se pudesse imaginar na situação, no momento do processo. Um vídeo,
que apesar de ser a filmagem da única obra que não foi realizada num edifício mas
sim numa árvore (consistia em pessoas penduradas em redes a cair da árvore) dava
especialmente ao espetador a perceção do forte envolvimento espacial, da
presença física do artista nos seus edifícios, com as suas matérias-primas.
E muitas outras obras que foram
apresentadas através de vídeos, ou de fotografias e que assim nos mostravam o
próprio artista em ação, a estar no local
da sua criação, contribuía para essa perceção.
A questão da efemeridade da obra também
teve eco nos vídeos, em que se acompanhava um momento, um processo, um processo
que se arrastava mas que estava a ser vivido intensamente porque estava prestes
a terminar. (O vídeo de uma das obras em especial filmava a própria demolição
da casa...!) E imagino que isso aproxime o espetador da realidade do artista e que este portanto possa procurar, um pouco melhor, percebê-lo.
Achei que apesar de todas as mais-valias que havia em que as obras fossem apresentadas em vídeos achei que teria sido preferível ter
colocado fotografias retiradas dos vídeos (“screenshots”) a acompanhar estes
vídeos, para que o espetador pudesse observar com mais detalhes as várias fases
da obra resultado.
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