UMA
MANEIRA DE SER MODERNO
“começar”-
Almada Negreiros
A
presente recensão versará sobre algumas obras de Almada Negreiros,
apresentadas na exposição, Uma
maneira de ser moderno, realizada
de Fevereiro a Junho de 2017, na Fundação Calouste Gulbenkian. Foi
uma exposição que já não se realizava à cerca 25 anos, que
aglomerou numa única apresentação, organizada em sete espaços
temáticos, obras desde a pintura ao desenho,
a exemplares das revistas Orpheu,
às narrativas, ao cinema e até a pesquisas de matemática e de
geometria que posteriormente foram integradas na sua obra.
Almada
Negreiros nasceu a 7 de abril de 1883 em São Tomé e Príncipe, e
veio para Lisboa ainda muito jovem,com cerca 3 anos.
Almada
foi uma das figuras mais controversas do modernismo português.
Representando um “símbolo” da vanguarda, está bastante ligado
ao principio da República e o seu futurismo e modernismo coincidem
precisamente com a época de 1910 em diante.
O
caminho para qual esta recensão quer apontar, diz respeito a
seguinte questão: o que pretendeu Almada com o este modernismo? De
certo modo o modernismo está ligado a provocações, mas o que
Almada Negreiros queria era que o país saísse da estagnação e do
pensamento conservador em que estava, que deixasse de ser acomodado,
e fê-lo através da crítica e da inovação.
Dizia
Almada na conferência O
desenho,
de 1927 em Madrid:
Isto
de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir,
mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia
moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.
Modernidade
e novidade.
Duas palavras que fazem todo o sentido quando nos referimos a este
artista. O que o torna moderno é a novidade. A modernidade de Almada
faz-se também
com
a relação que este tem com todas as artes. O desenho, a pintura, o
cinema, a poesia, os manifestos, fotografia… São todas estas artes
que fazem Almada ser “tudo” e ser uma novidade para uma época
que de novo não tinha muito.
O papel ativo de Almada
em todas as áreas de arte estavam de certo modo contra tudo aquilo
que era a estagnação e a passividade instaladas na época.
Na
seguinte obra – Um
homem casado
– os sinais do seu modernismo e futurismo são, do meu ponto de
vista, mais do que evidentes:
Primeiro,
encontramos
uma
possível
crítica àquilo
que era a sociedade daquela época, isto é, a uma prática de vida
alegre e despreocupada em relação aos acontecimentos em redor, ora
a tal sociedade acomodada. Poderá
também
existir nesta
obra uma possível
relação com
o tabu
da homossexualidade. E com esta visão futurista
e crítica, Almada
mostra mais uma vez o modernismo do seu pensamento.
Nesta obra
(sem título),
tal
como na obra anterior, é perceptível a representação que Almada faz de uma vida alegre e despreocupada
da alta classe da sociedade portuguesa daquele tempo.
A
representação gráfica dos homens que desfrutam do seu charuto, bem
vestidos, com roupas de alta qualidade, integram-se perfeitamente
nesta descrição.
Na minha opinião,
nesta obra, para além da presença da descrição gráfica, pode
haver também uma crítica a sociedade daquele tempo. Tal como na
primeira obra, os homens parecem relaxados e alegres com aquela vida,
embora tudo não passasse de uma fantasia criada pela alta sociedade
portuguesa, que vivia acomodada, sem se preocupar muito com os
problemas da época.
Anteriormente
afirmei que o modernismo de Almada
estava intimamente ligado com a sua atividade em áreas de
intervenção diversas. As seguintes obras revelam exatamente este
aspeto.
Com esta obra
– Autorretrato
–, percebe-se
que Almada não é apenas pintor, Almada era também um artista
plástico. Este autorretrato feito principalmente com arame, mostra
alguma volumetria, onde a parte pintada com guache preto em contraste
com a parte não pintada da madeira dá uma noção de
tridimensionalidade, de alto contraste e de luz-sombra.
Nesta obra Almada
conjuga as artes plásticas com a pintura, mostrando o artista
completo que era para uma época como aquela.
O
Naufrágio da Ínsula representa
um
outro
bom exemplo de
que
Almada era um artista versátil,
destacando-se
desta
vez o cinema.
Aqui,
Almada, expõe
um filme através da apresentação de diapositivos pintados em
folhas separadas.
Esta
exposição trouxe uma pequena amostra de obras de todas as áreas de
trabalho artístico nas quais Almada Negreiros esteve ativo, passando
assim a ideia ao expectador de que Almada não era (e nem pode ser)
visto apenas como pintor ou artista plástico; mas sim, um artista
moderno que trabalhava em qualquer área artística, era um artista
completo. Não só moderno e completo, mas também inovador na forma
de realizar as suas obras, seja através de temas controversos e
críticos ou através da forma que trabalhava os materiais.
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