quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"UMA MANEIRA DE SER MODERNO"

UMA MANEIRA DE SER MODERNO

 “começar”- Almada Negreiros


A presente recensão versará sobre algumas obras de Almada Negreiros, apresentadas na exposição, Uma maneira de ser moderno, realizada de Fevereiro a Junho de 2017, na Fundação Calouste Gulbenkian. Foi uma exposição que já não se realizava à cerca 25 anos, que aglomerou numa única apresentação, organizada em sete espaços temáticos, obras desde a pintura ao desenho, a exemplares das revistas Orpheu, às narrativas, ao cinema e até a pesquisas de matemática e de geometria que posteriormente foram integradas na sua obra.
Almada Negreiros nasceu a 7 de abril de 1883 em São Tomé e Príncipe, e veio para Lisboa ainda muito jovem,com cerca 3 anos. Almada foi uma das figuras mais controversas do modernismo português. Representando um “símbolo” da vanguarda, está bastante ligado ao principio da República e o seu futurismo e modernismo coincidem precisamente com a época de 1910 em diante.
O caminho para qual esta recensão quer apontar, diz respeito a seguinte questão: o que pretendeu Almada com o este modernismo? De certo modo o modernismo está ligado a provocações, mas o que Almada Negreiros queria era que o país saísse da estagnação e do pensamento conservador em que estava, que deixasse de ser acomodado, e fê-lo através da crítica e da inovação.
Dizia Almada na conferência O desenho, de 1927 em Madrid:
Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir, mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.
Modernidade e novidade. Duas palavras que fazem todo o sentido quando nos referimos a este artista. O que o torna moderno é a novidade. A modernidade de Almada faz-se também com a relação que este tem com todas as artes. O desenho, a pintura, o cinema, a poesia, os manifestos, fotografia… São todas estas artes que fazem Almada ser “tudo” e ser uma novidade para uma época que de novo não tinha muito. O papel ativo de Almada em todas as áreas de arte estavam de certo modo contra tudo aquilo que era a estagnação e a passividade instaladas na época.



Na seguinte obra – Um homem casado – os sinais do seu modernismo e futurismo são, do meu ponto de vista, mais do que evidentes:
Primeiro, encontramos uma possível crítica àquilo que era a sociedade daquela época, isto é, a uma prática de vida alegre e despreocupada em relação aos acontecimentos em redor, ora a tal sociedade acomodada. Poderá também existir nesta obra uma possível relação com o tabu da homossexualidade. E com esta visão futurista e crítica, Almada mostra mais uma vez o modernismo do seu pensamento.






Nesta obra (sem título), tal como na obra anterior, é perceptível a representação que Almada faz de uma vida alegre e despreocupada da alta classe da sociedade portuguesa daquele tempo. A representação gráfica dos homens que desfrutam do seu charuto, bem vestidos, com roupas de alta qualidade, integram-se perfeitamente nesta descrição.
Na minha opinião, nesta obra, para além da presença da descrição gráfica, pode haver também uma crítica a sociedade daquele tempo. Tal como na primeira obra, os homens parecem relaxados e alegres com aquela vida, embora tudo não passasse de uma fantasia criada pela alta sociedade portuguesa, que vivia acomodada, sem se preocupar muito com os problemas da época.
Anteriormente afirmei que o modernismo de Almada estava intimamente ligado com a sua atividade em áreas de intervenção diversas. As seguintes obras revelam exatamente este aspeto.





Com esta obraAutorretrato –, percebe-se que Almada não é apenas pintor, Almada era também um artista plástico. Este autorretrato feito principalmente com arame, mostra alguma volumetria, onde a parte pintada com guache preto em contraste com a parte não pintada da madeira dá uma noção de tridimensionalidade, de alto contraste e de luz-sombra. Nesta obra Almada conjuga as artes plásticas com a pintura, mostrando o artista completo que era para uma época como aquela.









O Naufrágio da Ínsula representa um outro bom exemplo de que Almada era um artista versátil, destacando-se desta vez o cinema. Aqui, Almada, expõe um filme através da apresentação de diapositivos pintados em folhas separadas.






Esta exposição trouxe uma pequena amostra de obras de todas as áreas de trabalho artístico nas quais Almada Negreiros esteve ativo, passando assim a ideia ao expectador de que Almada não era (e nem pode ser) visto apenas como pintor ou artista plástico; mas sim, um artista moderno que trabalhava em qualquer área artística, era um artista completo. Não só moderno e completo, mas também inovador na forma de realizar as suas obras, seja através de temas controversos e críticos ou através da forma que trabalhava os materiais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.