domingo, 27 de maio de 2018

A Arte e a Manipulação da sua Perceção

  Uma das características da arte é a sua capacidade de nos fazer sentir, mas serão esses sentimentos transmitidos, capazes de serem alterados e ate manipulados?será o espaço onde está exposta, o que a rodeia ou até outros factores, capazes de distorcer a nossa percepção do que retiramos de uma obra?
  A resposta é sim.
Um grande e mais óbvio exemplo deste efeito de distorção de percepção, é o agrupamento que por vezes se faz das artes plásticas com a musica. A musica é capaz de criar um ambiente e estado de espírito que acaba por afectar a maneira como interpretamos e sentimos o que estamos a observar.
  Peguemos talvez na mona lisa, de Da Vinci. Dependendo da musica que possamos estar a ouvir, voluntária ou involuntariamente, consciente ou inconscientemente, o humor da mulher de representada pode-nos parecer variar, isto porque a nossa percepção esta a ser afectada por outro tipo de “estimulo”.
  Por esta razão, não é passado qualquer tipo de musica em museus, a não ser que a própria musica ou áudio sejam parte da obra de arte em si, embora de certa forma a própria distribuição das obras possa afectar a nossa percepção das mesmas.
  A nossa experiência ao observar uma “Guernica de Picasso, seria diferente se tivéssemos visto diferentes obras instantes antes. Um “tres de mayo en Madrid de Goya, faria-nos experiencial uma “Guernica” diferente de por exemplo um “carnaval do arlequim” de Miró faria. Diria ainda, que todas as obras que estão neste momento longe do seu inicial e principal destino, estão todas afetadas por esta alteração de percepção, porque não estão no meio em que o artista as imaginou e planeou que elas estivessem, ou já não são totalmente relevantes a nossa época... por exemplo um fresco renascentista, nos dias que correm, ele é interpretado, e podemos até entender o significado por trás dele, mas é certo que ele não nos “fala” da mesma maneira que “falava” as pessoas da época em que foi pintado, porque a temática já não só perdeu relevância, como houveram mudanças culturais.
  E embora esta afecção possa estar presente desintencionalmente em todo o lado, nos midia, assim como em filmes e documentários, o que sentimos, é, geralmente, altamente manipulado, pelo facto de como jogam com os nossos sentidos enquanto nos são apresentadas quaisquer obras de arte, seja com sons, com cores que rodeiam ou até a maneira que decidem abordar a obra.
  Deveríamos então ter mais cautela quando estamos perante uma obra?
  Sim e não.
  Sim, porque não devemos deixar que a nossa percepção da arte seja manipulada, perdendo as obras a sua essência por culpa de terceiros, ou até mesmo por culpa nossa. E não, porque a menos que seja uma obra contemporânea que se encontre no espaço e ambiente ideal que o artista visualizou, vamos sempre ser afectados por esta distorção na nossa percepção...
  O importante é percebermos a diferença entre distorção e tentativa de manipulação do que vemos e sentimos perante a arte.

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