Uma das características da arte é a
sua capacidade de nos fazer sentir, mas serão esses sentimentos
transmitidos, capazes de serem alterados e ate manipulados?será o
espaço onde está exposta, o que a rodeia ou até outros factores,
capazes de distorcer a nossa percepção do que retiramos de uma obra?
A resposta é sim.
Um grande e mais óbvio exemplo deste
efeito de distorção de percepção, é o agrupamento que por vezes
se faz das artes plásticas com a musica. A musica é capaz de criar
um ambiente e estado de espírito que acaba por afectar a maneira como
interpretamos e sentimos o que estamos a observar.
Peguemos talvez na mona lisa, de Da
Vinci. Dependendo da musica que possamos estar a ouvir, voluntária ou
involuntariamente, consciente ou inconscientemente, o humor da mulher
de representada pode-nos parecer variar, isto porque a nossa percepção
esta a ser afectada por outro tipo de “estimulo”.
Por esta razão, não é passado
qualquer tipo de musica em museus, a não ser que a própria musica
ou áudio sejam parte da obra de arte em si, embora de certa forma a
própria distribuição das obras possa afectar a nossa percepção das
mesmas.
A nossa experiência ao observar uma “Guernica”
de Picasso, seria
diferente se tivéssemos visto diferentes obras instantes antes. Um
“tres de mayo en Madrid”
de Goya, faria-nos
experiencial uma “Guernica”
diferente de por exemplo um “carnaval do arlequim”
de Miró faria. Diria
ainda, que todas as obras que estão neste momento longe do seu
inicial e principal destino, estão todas afetadas por esta alteração
de percepção, porque não estão no meio em que o artista as
imaginou e planeou que elas estivessem, ou já não são totalmente
relevantes a nossa época... por exemplo um fresco renascentista, nos
dias que correm, ele é interpretado, e podemos até entender o
significado por trás dele, mas é certo que ele não nos “fala”
da mesma maneira que “falava” as pessoas da época em que foi
pintado, porque a temática já não só perdeu relevância, como
houveram mudanças culturais.
E embora esta afecção possa estar presente desintencionalmente em todo o lado, nos
midia, assim como em filmes e documentários, o que sentimos, é,
geralmente, altamente manipulado, pelo facto de como jogam com os
nossos sentidos enquanto nos são apresentadas quaisquer obras de
arte, seja com sons, com cores que rodeiam ou até a maneira que
decidem abordar a obra.
Deveríamos então
ter mais cautela quando estamos perante uma obra?
Sim e não.
Sim, porque não
devemos deixar que a nossa percepção da arte seja manipulada,
perdendo as obras a sua essência por culpa de terceiros, ou até
mesmo por culpa nossa. E não, porque a menos que seja uma obra
contemporânea que se encontre no espaço e ambiente ideal que o
artista visualizou, vamos sempre ser afectados por esta distorção na
nossa percepção...
O importante é
percebermos a diferença entre distorção e tentativa de manipulação
do que vemos e sentimos perante a arte.
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