quarta-feira, 23 de maio de 2018

Pinturas fugitivas





Sol Calero (n. 1982, Caracas) estudou na Universidad Complutense de Madrid e na Universidad de la Laguna em Tenerife. Vive e trabalha em Madrid. Recentemente tem exposta uma exposição na Kunsthalle de Lisboa. Para quem não conhece, a kunsthalle Lissabon é um projecto curatorial que parte da ideia de Kunsthalle não apenas como um local, mas sobretudo como uma instituição caracterizada pela realização de exposições temporárias, para existir como um embuste. A Kunsthalle Lissabon posiciona-se como uma alternativa intencional aos modelos tradicionais da prática institucional. 


Sol Calero tem vindo a desenvolver uma linguagem pictórica que funciona de maneira semelhante a souvenirs: uma representação idealizada de um lugar, que concentra em si múltiplas camadas de uma identidade auto-projetada. O souvenir não é um objeto retirado do seu contexto, mas antes um objeto criado para encapsular um contexto específico e disseminá-lo como uma interpretação abstrata. A artista recria o contexto da pintura como um souvenir. Na exposição presente na Kunsthalle apresenta molduras originais do Peru . As cores que utiliza baseam-se nos pigmentos da população em hierarquia descendente de combinações raciais. 


A figura 1 , Tente en el aire, foi a obra de que mais gostei. Onde a pintura é feita sobre a parede do espaço, tornando-se fugitiva. Fugindo da própria moldura imposta. A pintura escapa e transforma-se, mistura-se, criando os tons das combinações raciais. Escapa à formatação imposta pela moldura, como quem tenta escapar à formatação quadrada das televisões, computadores, telemoveis. Ganhando a percepção de que o mundo passa a ser infinito a um certo momento. E a noção de infinito elimina o centro do mundo. Uma despreocupação material na pintura, desmaterializando-a, tornando-a espaço. Efémera porque não se pode levar para lado nenhum. Mas hoje conseguimos levar esta pintura a qualquer parte do mundo, através do registo fotográfico e da internet. Conseguimos tornar algo que desaparece em algo que pode permanecer para sempre, um sempre que pode ser muito curto, cheio de condicionantes.  




Fig. 1 Sol Calero: Tente en el aire

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