sábado, 16 de dezembro de 2017

O homem como mercadoria

Quando os fenícios, abandonaram as suas raízes nómadas e com os progressos agrícolas começaram a produzir excedentes, surgem os mercados de troca entre as vilas e as expedições de saque e por consequente o alfabeto. Há posse da terra e o homem sabe quem é o pai da criança, a mulher perde a influência, nas sociedades de caça a mulher ainda tem poder, mas o mundo agrário é patriarcal.

 Há um romper com a natureza como forma de sagrado, uma descrença no mundo interior dos humanos e uma partida para o armazenamento. Estando a autossubsistência adquirida, os humanos partem para o princípio consequente da sobrevivência: o armazenamento da mercadoria, o desejo de ter mais do que necessitam altera o valor das coisas e portanto a diferença entre o necessário e o supérfluo. Os bens deixam de ter um papel direto com o labor, passam a ser objetos, a ilusão de que estes transcendem o ser impulsionam o aparecimento da moeda. O dinheiro civilizado dura para sempre, assim a imortalidade dos homens está não no subjetivo, nas emoções e no caminho coletivo, mas projetada para fora da realidade interior: nos objetos. Desde os monumentos da Grécia antiga como materialização da culpa espiritual (dos homens para os deuses) até à revolução industrial, onde o homem não passa de uma manivela bem oleada na máquina de vapor capitalista. Há uma suprema alienação do corpo, as máquinas são eternas, mas os corpos, estes apodrecem sem intervenção do capital, sem se converterem em arquétipos, estátuas ou materialização dos seus feitos. Nas formas mais avançadas do capitalismo, os objetos tomam o lugar das pessoas, são o sinal visível da graça espiritual, os objetos tornam-se vivos e fazem o que o homem gostaria de fazer: ser omnipotente e pai de si próprio. A equação de Freud explica isso, o dinheiro é um resíduo inorgânico que se tornou vivo e mutável ao herdar o poder mágico das fezes, é o desejo infantil de ser pai de si próprio quando se liga aquela parte que faz e não faz parte do corpo: as fezes.

 O homem depende do capital e a mulher é mais uma máquina de produção de humanos. Já no mito da criação quando deus retira da costela de Adão Eva, há uma simulação de parto, Eva saíra do ventre de Adão, é retirado portanto o misticismo e o carater sagrado à mulher que agora apenas pare. Há uma semelhança intrínseca e não ocasional na forma como o Homem vê a mulher e a natureza. Depois deste rompimento com as raízes primordiais, a ilusão da separação entre os homens muito responsável pela igreja católica, cria uma aliança entre os homens não pela partilha, mas pelo medo, o indivíduo possessivo que se separa do grupo e foge de si mesmo, usa, viola e apropria-se da natureza assim como da mulher.

 O retorno à natureza em contraste com a fuga materialista da sociedade atual é a única esperança no caminho coletivo para uma verdade sensível e humanista.

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