quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Terror e Miséria no Terceiro Reich, Bertolt Brecht

A obra "Terror e Miséria no Terceiro Reich", de Bertolt Brecht tem como maior das características o facto de ter sida escrita pelo autor enquanto exilado na Dinamarca, durante o regime nazi. A peça de teatro é composta por vinte e três atos, aparentemente desconexos, com a particularidade de, cada um deles, individualmente, corresponder a uma cena do quotidiano do terceiro reich diferente.
Nesse sentido, o título funciona como uma unidade que reúne em si a totalidade dos atos, resultando, em simultâneo como um resumo da temática que assume a função de fio condutor de toda a obra.
Como referido anteriormente, em informação de didascálias, todo o cenário e personagens é alterado, nunca havendo repetição. Há ainda uma disparidade total a nível de situações retratadas: se numa cena observamos uma situação familiar de apoiantes do regime, noutra vemos retratadas passagens em campos de concentração.
Ainda a nível de narrativa, esta peça destaca-se não pela comoção provocada no leitor mas sim pela imensa e diversa quantidade de perspetivas apresentadas pelo autor. Este efeito é recorrente no teatro brechtiano, incluindo-se na categoria dramática desenvolvida pelo próprio autor - a do teatro épico. Isto implica que o propósito final da obra não seja a comoção, como é frequente no retrato de situações dramáticas clássicas. Bertolt Brecht opta por uma abordagem de maior distanciamento entre ator / personagem, espetador / encenação, o que permite ao leitor / espetador da peça uma visão crítica e refletiva, com maior objtividade.
A título de exemplo, a cena "Um caso de traição" - a segunda da obra -, retrata um casal que entrega o seu vizinho às forças nazis, a troco de dinheiro e observa a detenção do mesmo. O homem e a mulher têm entre si um diálogo no qual se preocupam com o facto do casaco do vizinho ter sido rasgado por um dos agentes. A técnica usado não pretende, obviamente, que haja uma comoção assoberbante para com aquele que é preso, mas sim uma reflexão acerca da futilidade registada no diálogo do casal que parece mais concentrado nas condições do vestuário do homem do que no seu destino - o campo de concentração.
Estas são precisamente as cenas de puro horror, não tanto em termos de descrições - como é hábito acontecer em obras sobre o Holocausto -, mas sim em termos de crueldade humana e até de cegueira causada pelo conforto e normalidade com que os habitantes alemães observavam o acontecimento.
É, finalmente, uma peça com grande potencial cénico pela singularidade de escrita - em cenas individuais -, que confere dinamismo e originalidade, o que por vezes torna a peça difícil de representar, devido à necessidade de adaptabilidade de cenários e à imensa variedade de personagens o que torna a encenação da peça menos apelativa.


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