Esta revista diferencia-se das anteriormente feitas por Rafael Bordalo Pinheiro, sendo criada com um espírito adequado à época, tanto na questão gráfica como temática. Esta sobressai também pela quantidade de artistas que a compunham, visto que “A Paródia” contou com inúmeros colaboradores, tanto ilustradores como cronistas ao longo dos anos, característica esta que não era muito comum noutras revistas da época.
“A paródia é a caricatura ao serviço da tristeza publica. É a Dança da Bica no cemitério dos prazeres”
Não sendo esta a primeira publicação ilustrada em Portugal, nem sequer a primeira revista humorística, “A Paródia” revela-se diferente por apresentar a visão crítica tão característica de Bordalo Pinheiro. O seu forte conteúdo caricaturista, que não ficava aquém da própria realidade vivida na época, não se deixava intimidar por qualquer tipo de controlo ou manipulação, dando total liberdade aos artistas para ironizar qualquer tema que escolhessem. Independentemente da temática, o objetivo de Bordalo Pinheiro não era alterar o regime, mas sim a própria sociedade. O problema não residia nos políticos em si, mas em todo o sistema.
“A Paródia” permitiu assim ao povo português rir às custas das tristezas que viviam no dia-a-dia e talvez até ganhar consciência da situação política e económica em que se encontrava o país. Esta revista pretendia então simbolizar ou representar a maioria do povo português, tornando-se num porta-voz com coragem suficiente para criticar o país, sempre disfarçada com o humor que lhe era tão característico.
O contacto de Bordalo Pinheiro e do filho com outras revistas estrangeiras foi essencial, pois permitiu-lhes manterem-se a par das novidades que iam surgindo no resto da Europa. É neste contexto que vemos o grafismo português a espandir-se no início do século XX, talvez pelas influências do grafismo Arte Nova que se ia desenvolvendo noutros pontos europeus. A caricatura, que tinha emergido inicialmente como um complemento da imprensa noticiosa, começa assim a ganhar independência, conquistando o seu próprio espaço em jornais, onde o valor gráfico supera ou equipara o valor literário. Pode-se até afirmar, que houve um grande crescimento do “proletariado” satírico, daí que fosse possível criar jornais gráfico com um grande número de colaboradores, tal como vemos n’ “A Paródia”. Francisco Valença, outro caricaturista, chegou a descrever a caricatura:
“Seja ela pessoal ou política, fantasista ou anedótica, constitui uma expressiva e eloquente manifestação artística. Com uma vantagem: todos a compreendem desde que não sejam cegos.”


Bordalo Pinheiro tentou ainda criar uma pequena escola académica, como tentativa de diminuir as irregularidades na qualidade estética da revista, fornecendo moldes gráficos para que os menos aptos tivessem um modelo a seguir. No entanto, depressa compreendeu que não é possível criar um modelo para o humor, pois esse tem de vir do próprio génio e da criatividade pessoal de cada artista.
Deste modo, “A Paródia” revela-se como uma revista de grande importância em Portugal do século XX, sendo até das obras que mais corretamente descreve esta época. Trazendo o riso às vidas do povo português, foi através da genialidade de Raphael Bordalo Pinheiro que foi possível imortalizar esta revista, pois mal sabia ele que passado pouco mais de um século as suas ilustrações satíricas ainda se adequariam de modo verídico à realidade portuguesa do século XXI.

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