terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A dromologia e as suas implicações na cultura visual da sociedade de informação



A dromologia define-se como o estudo sobre a questão da velocidade no contexto social. Paul Virilio é o teórico francês responsável por esta concepção que pretendo trazer para o campo da cultura visual.
A dromologia é o processo de aceleração da situação da velocidade, sendo a velocidade uma dimensão de poder. A dromologia debate-se sobre a poluição da velocidade.

Para Paul Virilio, o aumento da velocidade é, em primeiro lugar, o desaparecer do lugar, do espaço. Quanto mais aceleramos o tempo, menos espaço detemos. Isso terá implicações nas nossas relações com a dimensão espacial: o urbano, a casa, o objeto e a ideia de viagem. Antes do tempo da aceleração, a viagem era um espaço rico de narrativas, de experiências. Agora, a viagem destitui-se de momentos interessantes e relevantes pois o tempo é condensado: o elevador mata a escada. O atrito social é desprezado em detrimento de novas leis geradas pela sociedade hipermoderna.

A DITADURA DO PRESENTE


O filósofo francês defende que o tempo tem uma espessura, de passado, presente e futuro. Essa espessura é adelgaçada pela aceleração, pela dromologia da lógica presentista. Tudo acontece agora, o presente é extensivo e engloba os outros tempos. O chegar absoluto do presente é um colapsar da cronologia, um desastre do tempo. Existe assim um tempo único e generalizado, um tempo mundial, que aniquila e desertifica os vários tempos locais.

O território, o lugar é destruído pela velocidade, pelo presente. Prova disso é o ciberespaço, que não necessita de local, só de tempo: o tempo comum torna-se um lugar comum, e esse tempo comum é o presente que nos une a todos.  Temos então o contraste entre o tempo extensivo da história, o que tem cronologia, espessura nos seus três modos, o tempo que passa e que espera e o tempo intensivo do momento, o da instantaneidade sem história, o tempo auto-referente ao seu próprio presente. 

As próprias lógicas do filosofar, do refletir, do pensar são lógicas temporais e cronológicas. Ao reduzir e encurtar esse tempo de reflexão, algo se perde. No presente sempre presente, na ciber-cidade, as lógicas da democracia, que eram assentes na demora, na reflexão e no trajeto, perderam-se.  O tempo no instante liquida o lugar de reflexão e da duração. 

 

DROMOLOGIA VISUAL 


Esta aceleração está também presente na dimensão visual das nossas experiências individuais. A dromologia é também a velocidade da informação que nos assola constantemente, é o conjunto de estímulos visuais que tornam o indivíduo contemporâneo insensível ao choque mas ao mesmo tempo preocupado e ansioso. É o exagero de dados que o cérebro humano não consegue processar, acabando por filtrar o que parece importante reter mas deixando-nos sempre com a sensação de que não estamos a explorar a miríade de possibilidades que o grande presente nos dá. 

Um exemplo desta ocorrência é a cultura virtual de memes. O conceito de meme foi criado por Richard Dawkins e refere-se à unidade de evolução cultural que se pode autopropagar, sendo análoga ao gene do campo da biologia. Hoje em dia vemos um fenómeno de partilha viral destas unidades que muitas vezes constituem ruído informativo e não funcionam como fatores de evolução. Um meme pode ser uma única palavra, pode ser todo um discurso, pode ser uma só imagem ou um pormenor dela, uma música ou apenas um fragmento dela. 

Acontece que na sociedade contemporânea vive-se uma urgência de participar no presente que leva os indivíduos a experimentar pânico e ansiedade; vive-se um exagero de informação que nos acelera e nos escraviza; vive-se uma ditadura dromológica com raízes nos ideais ocidentais capitalistas que nos governa diariamente.


REFERÊNCIAS:

VIRILIO, P. e POLIZOTTI, M. (2006). Speed and politics. Los Angeles, CA: Semiotext(e).

VIRILIO, P., BRAUSCH, M. e TURNER, C. (2011). A winter's journey. London: Seagull Books.
 

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