terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Paradoxo Ideológico

O conceito de ideologia pode ser resumido, segundo o Dicionário de Política de Bobbio, como um conjunto de ideias e de valores que dizem respeito à ordem pública, tendo também como função orientar os comportamentos políticos coletivos. Para Marx, a ideologia era o meio pelo qual as ideias da classe dominante passavam a ser aceites na sociedade como naturais. A ideologia mantinha a classe oprimida, ou o proletariado, num estado denominado de falsa consciência. A noção que as pessoas têm de si mesmas, as relações que têm com o resto da sociedade, é produzida pela sociedade em que nascemos, não pela nossa natureza.

Com o desenvolver do séc. XX, foi-se tornando cada vez mais claro que o capitalismo não iria ser derrubado. Por muito que a maioria continuasse desfavorecida em prol do bem da minoria. Este sistema socioeconómico parecia triunfar com base nesta falsa consciência. De modo a encontrar uma explicação para tal, Althusser desenvolveu uma teoria da ideologia mais sofisticada, em que esta se liberta da relação fechada de causa-efeito como base económica e é aplicada como um conjunto de práticas ou regras, nas quais todas as classes participam. Isto mostra que este conceito tem de vir de dentro para fora e não de fora para dentro. São fabricadas ideias de como é que a sociedade é regulada, mostrando esta como a única opção viável.

Marx acreditava que as classes oprimidas eventualmente teriam de se aperceber desta falsa consciência que os guiava diariamente, e por sua vez derrubarem a ordem económica que a produziu. Contudo, a teoria de Althusser da ideologia como prática, não mostra sinais de fraqueza, pois o seu poder reside no envolvimento dos oprimidos nas suas práticas, levando a que estes construam as suas próprias identidades dentro deste espectro.

Concluindo, não existe uma maneira de escapar à ideologia de Althusser pois, embora a nossa experiência física e social a possa refutar, a única maneira que dispomos para dar sentido a essa experiência tem sempre uma base ideológica. A única ideia que podemos ter de nós próprios e dos nossos relacionamentos sociais é uma ideia que por sua vez é uma prática da ideologia que nos domina.

Referencias:

John Fiske (1993) Introdução ao Estudo da Comunicação

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