O Homem sempre pareceu viver meio no presente, meio no futuro. Karl Marx escreveu que “o trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz.” A sociedade rege-se pela procura da produção de algo sempre melhor e maior, e não é estranho que isso se reflita no mundo atual, infestado com o vírus da tecnologia e, como tudo, estes produtos mecânicos provêem do indivíduo humano que os decide criar.
Talvez por sempre querer viver intemporalmente, não é de estranhar a fascinação que o Homem tem com a imortalidade. Desde a antiguidade e as lendas das divindades imortais que se erguiam aos céus e cometiam milagres, há algo na possibilidade de ser intocável pela natureza da vida que atrai o ser humano. Parece ser por isso que, assim que capazes de tais avanços tecnológicos, o Homem se tenha posto a imaginar o que aconteceria se se fundisse indivíduo mecânico, elétrico, objeto com o indivíduo natural, de carne e osso — que resultaria no aclamado Robô.
Com uma inteligência artificial capaz de calcular qualquer raciocínio num segundo (pelo menos os que os seus criadores conseguem) e imune à força da morte, os robôs parecem ser a solução perfeita para quem quer ficar pelo planeta Terra (ou noutro) por mais que a idade média de vida de um ser humano. Faz pouco tempo que um robô chamado de Sophia fez sensação pelo mundo inteiro, deixando a população que ainda não usa eletricidade para funcionar impressionada. Este social humanoid robot foi desenvolvido em Hong Kong e em outubro de 2017 conseguiu algo que, estranhamente, muitos humanos ainda não conseguiram — cidadania legal. Este robot tornou-se uma cidadã legal da Arábia Saudita.
As conversas que robôs como este têm com repórteres e outros são dos eventos que mais parecem fascinar o público, tendo estes demonstrado a sua vontade de ter famílias ou estudar, desejos que até hoje pareciam apenas pertencer ao ser humano. E talvez sejam conversas como estas em que nos podemos debruçar e questionar, onde se encontra a linha que separa o Homem da máquina?
Cada vez mais, com acontecimentos mais chocantes como o anteriormente mencionado ou até mesmo com a óbvia presença que a tecnologia moderna tem na vida da sociedade humana, essa linha parece desaparecer. O homem parece trabalhar cada vez mais e mais para fazer este sonho ganhar vida mas a verdade é que não se acaba por criar nenhuma vida, pelo contrário, ela apenas muda de lugar. O indivíduo põe tudo de si na máquina, no trabalho, no objeto, passando o objeto a “possuir” o criador.
A apropriação do objeto manifesta-se a tal ponto como alienação que quanto mais objetos o trabalhador produzir tanto menos ele pode possuir e mais se submete ao domínio do seu produto, do capital. 1
Há uma procura por parte do Homem de poder viver e, por isso, visa construir esta máquina que o auxiliará nisso. No entanto, enquanto se submete a esta máquina e a cria com o objetivo de viver, deixa de viver o próprio Homem. O próprio produto, apesar de ter sido criado pelo indivíduo, alienei-a-o; torna-se “uma força hostil e antagónica”, que contradiz a visão pela qual foi criado.
Esta busca parece cegar o Homem que, procurando distanciar-se do animal ao tentar quebrar o finito da vida, acaba por se reduzir ao instinto animal — conseguir sobreviver o maior tempo que conseguir dadas as suas capacidades. O Homem produz assim não só o objeto que o salva mas também a própria alienação que o condena.
REFERÊNCIAS
1. MARX, Karl. "O Trabalho Alienado" in Manuscritos Económico Filosóficos. 1993. Lisboa. Ed. 70.
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