O quê que nos faz humanos?
A palavra Humano vem da contração de duas
palavras latinas hue e man que significam
a cor do homem. Esta contração tinha como objetivo a criação do
conceito de raças dividindo a comunidade humana. Mas esta contração também
originou outro conceito denominado humus, em latim, e mais tarde
transformado em humanus. Este último tem o significado de terra ou
homem o que nos mostra como o ser humano sempre questionou a sua existência e
origem.
A versão antropológica aponta para que os seres humanos sejam
considerados uma espécie entre outras que habita o planeta Terra. A versão
teológica aponta para que o Homem seja uma criação de uma entidade divina
superior ao primeiro. A versão biológica aponta para o líder de uma cadeia
alimentar por a maior adaptabilidade que esta espécie tem ao mundo. A versão
moderna até aponta para a presença nas redes cibernéticas. Mas afinal o quê que
nos faz humanos? O bipedismo, a adaptabilidade, a inteligência ou apenas sorte?
A coexistência entre a própria espécie humana parece trazer muitas
respostas a estas intermináveis questões. Todas estas versões foram criadas
elas mesmas por o ser humano ou por grupos destes. Cada uma surgiu com um certo
contexto e causa e serviu um certo objetivo. Quer seja para acabar guerras,
libertar uma sociedade de controlos intelectuais ou apenas tentar explicar os
fenómenos que nos rodeiam o ser humano procura desde o inicio a razão para a
sua existência e sobrevivência.
A resposta parece então estar na razão para a pergunta em si. O
ser humano não quer saber quem é, mas sim porquê que existe e pode fazer esta
questão.
A vida quotidiana de um membro desta espécie é realizada sem pausa
ou intervalo. Desde que nasce até morrer a cassete, como podemos
chamar, nunca pára. Mesmo quando vamos dormir o sentimento é que mal fechamos
os olhos já os abrimos em segundos. Como é que seremos capazes de nos compreender
neste ritmo incessante que nunca nos deixa respirar ou refletir parados no
espaço temporal?
A única proposta de solução é a nossa imaginação. Criação nossa de
milhares de anos serve, antropologicamente, para a premeditação de situações de
sobrevivência possíveis. Mas, mais ainda, abre uma janela para qualquer
possibilidade ser encenada num teatro mental e de por vezes até parar o tempo
ou rebobinar este. Então será que é a imaginação a nossa razão de existência?
A imaginação permitiu ao Homem muito mais que sobreviver, mas
também poder viver. O nosso cérebro é moldado por ela. Os sentimentos e
situações da nossa infância provocam profundas ramificações na nossa maneira de
pensar e agir conectando a nossa memória à imaginação e criando a possibilidade
de cada um de nós ser um ser humano com uma diversidade estupendamente imensa
do resto da nossa espécie.
Todos os dias todos os seres humanos convivem, interagem, falam,
olham-se, conversam, lutam e criam novas memórias que os fazem humanos. A sua
existência existe nela mesma. Tem razão de ser, existir e acabar no mesmo
momento perante um novo momento.
A vida que parece estar cheia de momentos de espera entre
acontecimentos está intrinsecamente presente em todos os momentos existentes.
Não é a ida ao supermercado que foi uma perca de tempo, mas sim ela própria o
motivo de estarmos vivos, ainda que não fosse por a ingestão dos alimentos. O
que nos faz humanos parece ser o caminho que as nossas existências criam como
resposta a esta questão. Assim o que faz um ciclista humano pode ser o ciclismo
e o que faz um biólogo humano pode ser Natureza. A diversidade não existe
apenas fisicamente, mas ainda mais intelectualmente pois o nosso cérebro reage
constantemente a estímulos, até inconscientes, que criam a nossa resposta
especifica da pergunta proposta.
Numa abordagem interdisciplinar quero propor uma conexão entre o
fado português e os poemas de Jim Harrison que pode explicar uma das maneiras
de ser humano. Ser Humano é como ser um rio que tanto pode tentar conquistar a
montanha como acompanha-la até ao mar, mas as margens de um rio só são gastas
se a água for turbulenta.
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