Para Roland Barthes, o ponto de
partida para a reflexão do mito foi a sensação estranha que lhe causava a
naturalidade da imprensa, arte e senso comum perante realidades históricas.
Isto é, sofria por observar a confusão que os outros faziam entre Natureza e
História, e queria recuperar o abuso ideológico que nele se dissimulava. Apesar
de todo o seu contexto ser o da sociedade francesa dos anos 50, é ainda
possível fazer a transposição de muitas das suas mitologias para a sociedade
ocidental atual.
Nos dias que
correm, Barthes diria que uma ida ao supermercado seria o contexto ideal para
nos depararmos com diversos mitos. Com o aumento das campanhas de
sensibilização para uma alimentação saudável, dentro e fora dos supermercados,
somos ofuscados com a divulgação de produtos orgânicos, magros, saudáveis e com
qualidade, produzidos através de meios de produção amigos do ambiente e com
características excelentes para promover a nossa saúde. Mas será mesmo isso que
nós vemos/consumimos? Como é que nos sentimos quando, ao entrar no
supermercado, somos confrontados com os letreiros grandes, as cores vibrantes
dos legumes e frutas “frescos”, as embalagens com selos de certificado de
confiança, com cores em tons de verde e azul para dar a alusão à saúde? E as
imagens? Numa ou outra embalagem ou letreiro, existem sempre fotografias de
famílias sorridentes que, geralmente, representam o estereótipo de saúde e
felicidade definido pela sociedade. Estes aspetos dão-nos a sensação de
segurança e confiança e juntos funcionam para criar esse grande mito: o que nós
vemos é uma realidade controlada.
“O mito é uma
linguagem”
Roland Barthes
Referências:Roland Barthes
Roland Barthes (1915-1980), "Mitologias", Rio de Janeiro: Bertrand Brasil 2001, 11ºEd.
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