O conceito de Saudade,
termo lusitano, é um qualquer estado de vontade, incontrolável, de se estar
perto do objeto pelo qual se tem sentimento, um estado de contemplação e
saudosismo. Este transpõe-se e personifica-se em objetos, que vêm a ganham um
sentido ao indivíduo além da funcionalidade, além da estética. Produtos que
transpõem quais queres barreiras geracionais e intensificam essa intimidade
objeto-sujeito.
E nós, enquanto
elementos de uma sociedade, intrínsecos a uma noção de cultura, vimos a contaminar
cada experiência (sujeito-objeto). Impossível de desassociar a significações e
semânticas, a cada gesto e análise.
O Mercado da Saudade,
vem a explorar essa mesma noção cultural/geracional, e lojas como A Vida
Portuguesa e outras tantas, propõem a venda de marcas e produtos mais
memoráveis de gerações passadas, como Conservas Tricana, Pasta Dentífrica
Couto, Andorinhas Bordalo Pinheiro, Cera Encerite, Chocolates Regina, Sabonetes
Confiança, etc.
“São marcas registadas na memória e comercializam
uma forma de viver. Relembram o quotidiano de uma época e revelam a alma de um
país.”
- A Vida Portuguesa.
(2017). Manifesto. [online]
Produtos dotados
anteriormente por uma cotação de “uso”, “mercadoria”, vêm a ser hoje em dia
dotados de significados variados, reificando o mesmo objeto a uma nova
ideologia, por via da cultura estabelecida numa mesma geração. Estes produtos
que deixaram o seu sentido estético, alcançaram uma dimensão íntima, pessoal,
além “consumo”, com foco na confiança inter-geracional, que permite às gerações
atuais um foco primordial no que é antigo. Reforçado pelo conceito Vintage,
hoje tão “trend”.
Esta evolução de
significado de um mesmo objeto, procura retroceder, em parte, o processo do
mesmo, no Conceito de Alienação e Camera Escura, em que Karl Marx vem a
explicar a transformação da ideia original de objeto (uso/função prática), na
ideia de valor de mercado. Percepção de realidade de um mesmo produto
distorcida e falsa. Um conceito contaminado pela nova significação. Uma aproximação
da realidade, mas nunca tão vívida.
Esse processo pode se
entender pelo seguinte produto de exemplo do Mercado da Saudade: “Chocolates
Regina”.
Este, originalmente,
seguindo a lógica, possui o seu valor original para com o sujeito, “Comida”.
Após o produto ser entendido para venda, impõe um valor diferente para o
sujeito, valor de mercado, que por consequência reduz o Valor do Objeto, o
valor original, anteriormente referido, segundo Marx.
Por via do Mercado da
Saudade, atualmente, este objeto, retorna em parte o seu valor/significado
original (comida/desejo) através do acrescento do valor intimo do (saudosismo),
cultural, retorno a uma geração, juventude. Tão apelativo para o público alvo.
Recupera parte do Valor
original do objeto, que se entendia como perdido, no seguimento da produção
mercantilista, que Karl Marx se opõe.
Este tipo de mercado,
encontra o equilíbrio da relação entre o sujeito-objeto, sem despromover do seu
Valor de Objeto, no entanto, encontra-se encoberto de significações, atribuídas
pelo saudosismo de um passado pertencente ao público alvo, do qual este anseia
recuperar.
Referências
Marx, K. (1993). “O Trabalho Alienado” in "Manuscritos Econômicos-Filosóficos". Lisboa. Ed 70, p.159-166.
A Vida Portuguesa. (2017). [online]
Marx, K. (1993). “O Trabalho Alienado” in "Manuscritos Econômicos-Filosóficos". Lisboa. Ed 70, p.159-166.
A Vida Portuguesa. (2017). [online]
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