É uma pena que a exposição Time Capsule – A Revista Aspen, 1965-1971 (em exibição na
Culturgest até 7 de janeiro 2018) não tenha tanta divulgação quanto a que acho
que ela merece. Esta falta de divulgação faz-se notar logo ao entrar na
galeria, pois não existiu mais nada entre mim e a exposição. De certa maneira, essa
ausência de público faz com que nos absorvamos completamente naqueles dez
números da revista Aspen, pelo menos,
foi assim que me senti.
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| Aspen #1 |
Ao longo da exposição, somos
guiados pelos vários números da revista através do uso de diferentes cores
atribuídas a cada um. Cada sala oferece-nos a experiência visual do que seria a
exploração e manipulação (ou unboxing)
da revista por meio de vídeos que nos acompanham. Na primeira, deparamo-nos com
os números #1 e #2 da publicação (The Black
Box e The White Box). É
interessante notar que estes primeiros números se transcrevem numa visão
cultural da estância de Aspen (local onde a editora norte-americana Phyllis
Johnson decidiu iniciar este projeto). O design sofisticado percorre todos os
objetos adjacentes a estes dois fascículos de uma maneira soberba aos olhos do
observador. De um ponto de vista pessoal, vincula de imediato a nossa atenção
para com todos os propósitos e contextos histórico-sociais daquela época. A
partir do terceiro número da publicação The
Pop Art Issue (já com a intervenção de Andy Warhol e David Dalton e
colaborações com Lou reed, John Cale, The Velvet Underground e Gerard Malanga)
observamos uma viragem editorial bem afirmada. Agora chamam-nos a atenção as
cores mais vibrantes e os cartazes de concertos históricos dos The Velvet
Underground e as edições dos catálogos de Andy Warhol e Gerard Malanga. As
texturas nos próprios objetos editoriais e as suas diferentes dimensões
trazem-nos a vontade de mexer e remexer naquilo que por detrás das vitrines se
encontra. No número #4 (The McLuhan Issue),
Marshall MacLuhan e Quentin Fiore ajudam-nos a perceber as teorias da semiótica
e do design. Nela encontramos uma brochura vermelha sobre a cegueira e a
deambulação da publicidade que ostenta na sua capa a frase “Good news is bad
news”, reflexo da América daquela época.
A importância desta revista é tão
complexa que contém nela, para nosso encanto, textos (em primeira mão) de
Roland Barthes “The death of the author” estreado no número #5+6. The Minimalism Issue é um número duplo,
que se desenvolve sob cores neutras do branco ao preto e que na sua caixa
apresenta cinco discos que de certo nos farão recuar em direção aos fundamentos
de Marcel Duchamp (através da sua própria voz) desde a vanguarda dadaísta em
direção à performatividade. Este tipo de registos fonográficos que aqui podemos
observar, também no número #7 The British
Issue, são introduzidos - agora com contribuições de John Lennon e Yoko
Ono, numa tentativa de revisão da cultura Pop Britânica. Isto também se nota
nos próprios objetos editoriais, que nos “atiram” contra uma onda mais próxima
do psicadelismo típicos daquele contexto. Ao alcançarmos a vitrina que carrega
o número #8 da revista Aspen, todos
os seus conteúdos apontam para um panorama pós-minimal. The Fluxus Issue contém trabalhos de Jo Baer, Richard Serra, textos
de Robert Smithson entre outros.
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| Conteúdo do número #1 da revista Aspen |
Restam-nos apenas dois números:
#9 The Psychedelic Issue concebido
por Hetty e Angus McLise onde os objetos editoriais emanam cores vibrantes e
composições dinâmicas, poesias psicadélicas características da afirmação do
psicadelismo americano, reforçadas pelas poesias visuais de Ira Cohen: um
conjunto de imagens de um estúdio com espelhos de deformação; e #10 The Asia Issue, inteiramente dedicado ao
Oriente. Neste ressalta a “caixa” que é agora um envelope com caracteres
chineses, desenhada por Nori Sinoto, que chamam logo a atenção e um conjunto de
imagens e textos históricos relacionados com a Índia, China e Nepal.
Extremamente completa e bem organizada
(num zigue zague lógico e progressivo), faz-nos querer voltar atrás na galeria,
para ver e rever aqueles objetos históricos e de design. É uma viagem pelo
espaço e tempo, uma experiência importante para todos, no geral, mas em
particular para as pessoas do meio artístico e do design, pelas influências que
esta carrega. "Uma exposição que desestabiliza qualquer visão compartimentada da
arte americana de 1960 a 1970."


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