terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Alienação da Religião

   Para Karl Marx, a religião é simplesmente uma projeção da realidade que vivemos na Terra para um plano superior metafísico. Consiste num mundo fantástico criado pela mente humana, de modo a diminuir a sua necessidade de carência, atribuindo um carácter sobrenatural a fenómenos reais e naturais. O Homem está constantemente a produzir algo para suprir as suas necessidades, facilitando a sua vida e promovendo o seu bem-estar.
    A religião é assim entendida como algo alienado, pois o homem projeta para fora de si, de forma vã e inútil a ilusão de um mundo transcendente, um lugar muito mais apelativo em relação ao que vivemos, oferecendo a esperança de que um dia o irá alcançar e todos os seus problemas se irão resolver. Deste modo, o Homem projeta a sua própria imagem neste mundo ilusório, projeta-se no próprio Deus, acabando por se alienar a si próprio. A religião retrata-se então como uma ideologia, uma forma de consciência forjada para alienar as multidões garantindo assim os interesses de grupos dominantes, criando o estado de falsa consciência. Ela apenas oferece a libertação espiritual do Homem, algo imaginário e ilusório, meramente aparente e abstrato, sendo por isso uma consciência equivocada e errada em relação ao mundo. Marx considera-a mesmo como o “ópio do povo”, um calmante geral para a população que inibe a visualização da realidade, hipnotizando através da falsa superação de miséria com imagens falsas e promessas de uma vida além-túmulo. Existe como refúgio, prometendo ser a resposta a grandes questões humanas como a morte e o sofrimento, oferecendo algo para além do material. O Deus transcendente serve precisamente para apoiar o crente em todas as suas dificuldades e ainda recebe-lo no pós-vida, recompensando-o com bens celestiais e uma vida eterna.
    Deste modo, a religião é vista como uma mera criação humana, uma espécie de muleta que visa suportar o peso e as exigências da vida sob a forma de ente e lugar metafísico. Ela reflete o sentimento mais puro e absoluto do Homem. Deus é criado à imagem do Homem, como um reflexo idealizado, no qual o ser humano finito, precário e pecador projeta os seus desejos de perfeição e omnipotência. O ser humano deixa-se assim controlar pela sua própria criação, a religião transforma-o numa marioneta, fazendo-o cumprir meticulosamente as leis impostas em nome de Deus, sem reclamar ou blasfemar. A ideologia religiosa tem vindo assim a perder alguns apoiantes, pois cada vez mais o Homem se recusa a ter uma atitude passiva diante dos seus opressores, na falsa promessa de uma eternidade à custa de uma vida de carências e sofrimento. A escolha de aproveitar o seu tempo de vida para realizar desejos pessoais com vista a atingir o máximo de felicidade possível é assim a tentativa de escapar à alienação religiosa, é a escolha de recusar o “ópio” que anestesia a vivência do Homem deixando-o passivo e à mercê de leis impostas por classes dominantes.

Referências:
- FISKE, John. 1993. Introdução ao Estudo da Comunicação. Porto: Edições Asa

- FEUERBACH, Ludwig. 2007.A essência do Cristianismo. Rio de Janeiro: Editora Vozes. 

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