Para Karl Marx, a religião é simplesmente uma projeção da
realidade que vivemos na Terra para um plano superior metafísico. Consiste num
mundo fantástico criado pela mente humana, de modo a diminuir a sua necessidade
de carência, atribuindo um carácter sobrenatural a fenómenos reais e naturais.
O Homem está constantemente a produzir algo para suprir as suas necessidades,
facilitando a sua vida e promovendo o seu bem-estar.
A religião é assim entendida como algo alienado, pois o
homem projeta para fora de si, de forma vã e inútil a ilusão de um mundo
transcendente, um lugar muito mais apelativo em relação ao que vivemos, oferecendo
a esperança de que um dia o irá alcançar e todos os seus problemas se irão
resolver. Deste modo, o Homem projeta a sua própria imagem neste mundo ilusório,
projeta-se no próprio Deus, acabando por se alienar a si próprio. A religião
retrata-se então como uma ideologia, uma forma de consciência forjada para
alienar as multidões garantindo assim os interesses de grupos dominantes,
criando o estado de falsa consciência. Ela apenas oferece a libertação
espiritual do Homem, algo imaginário e ilusório, meramente aparente e abstrato,
sendo por isso uma consciência equivocada e errada em relação ao mundo. Marx
considera-a mesmo como o “ópio do povo”, um calmante geral para a população que
inibe a visualização da realidade, hipnotizando através da falsa superação de miséria
com imagens falsas e promessas de uma vida além-túmulo. Existe como refúgio,
prometendo ser a resposta a grandes questões humanas como a morte e o
sofrimento, oferecendo algo para além do material. O Deus transcendente serve
precisamente para apoiar o crente em todas as suas dificuldades e ainda
recebe-lo no pós-vida, recompensando-o com bens celestiais e uma vida eterna.
Deste modo, a religião é vista como uma mera criação humana,
uma espécie de muleta que visa suportar o peso e as exigências da vida sob a
forma de ente e lugar metafísico. Ela reflete o sentimento mais puro e absoluto
do Homem. Deus é criado à imagem do Homem, como um reflexo idealizado, no
qual o ser humano finito, precário e pecador projeta os seus desejos de
perfeição e omnipotência. O ser humano deixa-se assim controlar pela sua
própria criação, a religião transforma-o numa marioneta, fazendo-o cumprir
meticulosamente as leis impostas em nome de Deus, sem reclamar ou blasfemar. A
ideologia religiosa tem vindo assim a perder alguns apoiantes, pois cada vez
mais o Homem se recusa a ter uma atitude passiva diante dos seus opressores, na
falsa promessa de uma eternidade à custa de uma vida de carências e sofrimento.
A escolha de aproveitar o seu tempo de vida para realizar desejos pessoais com
vista a atingir o máximo de felicidade possível é assim a tentativa de escapar
à alienação religiosa, é a escolha de recusar o “ópio” que anestesia a vivência
do Homem deixando-o passivo e à mercê de leis impostas por classes dominantes.
Referências:
- FISKE, John. 1993. Introdução ao Estudo da Comunicação.
Porto: Edições Asa
-
FEUERBACH, Ludwig. 2007.A essência do Cristianismo. Rio de Janeiro: Editora
Vozes.
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