segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

As Contradições Culturais

Depois da Revolução Agrícola, as sociedades humanas cresceram e tornaram-se mais complexas, ao mesmo tempo que se desenvolviam cada vez mais elaborados modelos idealizados que sustentavam a organização social. Os mitos e ficções habituavam desde sempre as pessoas a pensar de determinada forma e a cumprir determinadas regras. Criaram-se, assim, os “instintos artificiais”, que formam uma rede a que chamamos cultura. 

No início do século XX acreditava-se que cada cultura era formada por uma essência inalterável que a definiria para sempre. Segundo este ponto de vista as culturas não sofriam alterações. Existiam e avançavam à mesma velocidade e na mesma direção. A única forma de esta se alterar seria através de uma força do exterior, possivelmente o contacto com diferentes culturas.

Hoje em dia percebemos que as culturas também se vão moldando no seu interior, e é isso o que as faz avançar mais. Para além de alterações do seu meio ambiente e da interação com o exterior, as culturas também sofrem alterações devido a dinâmicas que nelas próprias acontecem. Tudo o que é criado pelo Homem é susceptível à contradição interna. O desenvolvimento cultural assenta no reconciliar dessas contradições, que faz acelerar o processo de mudança e evolução. 

Estes valores contraditórios tornam-se fundamentais à existência de qualquer cultura humana. Explicando-os através de um caso específico, podemos observar políticos contemporâneos que querem alcançar uma sociedade mais justa e com maior igualdade, e para isso criam um aumento de impostos, que permite financiar programas que ajudem os mais pobres. Sendo as intenções as melhores não deixam de, ao mesmo tempo, violar a liberdade dos indivíduos para gastarem o dinheiro da forma que considerarem mais pertinente. Acaba por existir um conflito entre igualdade e liberdade. O mundo moderno não parece conseguir resolver problemas como este, e ao longo da história deparamo-nos com muitos outros casos sem resolução. Contudo, estas contradições acabam por ser intrínsecas às culturas humanas. São elas que acabam por impulsionar mais a criatividade e o dinamismo cultural. 

É através de discordâncias que nos vemos obrigados a reavaliar situações, pensá-las e criticá-las novamente. “A coerência é o apanágio das mentes obtusas.” 



Referência: Harari, Yuval Noah, História Breve da Humanidade, Elsinore Editora, 2011.

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