quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Black Museum



SPOILER ALERT

Black Mirror é uma série televisiva satírica criada por Charlie Brooker, um comentador humorista britânico conhecido pelo seu caracter controverso e frequentemente sacrílego. Retrata sociedades distópicas que criticam e analisam os erros e as ingenuidades do mundo moderno, focando-se particularmente nas consequências do avanço do universo tecnológico. Mundos insanos geridos por aparelhos, causando caos e apocalíticas provenientes de problemas sociais e sistemas políticos que o povo foi descartando até ser tarde demais.
Na mais recente temporada houve um episódio marcante no que toca à moralidade das pessoas, de um futuro hipotético onde a vaidade fictícia e artificial se foi tornando um fator de tal forma indispensável que a própria ética humana se tornou renunciável. Tudo começa quando uma jovem afro-americana, Nish, se depara com um velho museu quase abandonado, chamado “Black Museum”. Acontece que o nome sinistro do museu é de facto adequado para o seu conteúdo – uma coleção de artefactos (tecnológicos) icónicos usados em crimes históricos (muitos deles reconhecidos de episódios antecedentes). Nish explora o museu, tendo como guia o dono do sítio, um forte entusiasta das armas com um forte apetite pelo crime. Depois de diversas explicações e histórias gráficas sobre cada objeto, Nish descobre um dispositivo que dispõe um holograma de um senhor preto, com aspeto apático, destruído. É então que o seu guia, Rolo Haynes, lhe apresenta Clayton Leigh, um homem acusado de homicídio de um jornalista – contudo, em vez da sua sentença de morte, Leigh assinou um contrato concordando em entregar a sua impressão digital, para um estudo de uma máquina misteriosa, que asseguraria que a família fosse bem providenciada depois da sua morte. Foi então que descobriu que a sua impressão servia, na realidade, para o manter vivo numa imagem hologramática, permitindo que ele vivesse permanentemente para ser eletrocutado repetidamente para quem quisesse assistir ao sofrimento de um assassino (falsamente) acusado. O entretenimento era desumano – sabendo que só morria definitivamente com um choque de 15segundos, o dono do museu começou por autorizar apenas 10 ao público, pois qual seria o divertimento de ver um vegetal a ser eletrocutado? Tinha de o manter são, a par do próprio sofrimento, se não o divertimento sádico perderia o interesse e ele perderia o sucesso. Mas a ganância revelou-se mais forte do que o seu senso económico estratégico – com pequenos subornos, foi autorizando certos clientes a ter aqueles 2 ou 3 segundos de prazer ao ver o famoso homem em agonia eterna – até que ele perder consciência, e se tornar incapacitado. O museu, sem a sua principal atração, foi perdendo sucesso até ir simplesmente à falência.


No entanto a grande reviravolta do episódio foi a descoberta de que Nish na verdade não tinha acabado ali por acidente – Nish era filha de Clayton Leigh que depois da sua vida traumática, nem a reconhecera. Num ato heroico, Nish captura o dono do museu e prende-o na cadeia onde encontrara o prisioneiro, e mata o pai, libertando-o de qualquer sofrimento e orientando-o para a morte merecida há muito tempo.



Um fim merecido e satisfatório para o público geral – mas será que é essa a mensagem a ser transmitida? Que a vingança é a fonte de sucesso, de descanso? Será que o verdadeiro criminoso é o dono do museu, que autorizou tal martírio a acontecer, ou serão as pessoas, os clientes, que se deixam iludir a convencer-se da sua inocência por não serem causadores, mas meros usufruidores de ofertas que lhes são proporcionadas? Será que Nish é uma heroína por ter capturado Haynes e o ter castigado como ele castigou o seu pai, ou será que é igualmente culpada por causar a dor equivalente a mais uma vítima de tal tecnologia alienígena?



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