SPOILER ALERT
Black Mirror é uma série
televisiva satírica criada por Charlie Brooker, um comentador humorista britânico
conhecido pelo seu caracter controverso e frequentemente sacrílego. Retrata sociedades
distópicas que criticam e analisam os erros e as ingenuidades do mundo moderno,
focando-se particularmente nas consequências do avanço do universo tecnológico.
Mundos insanos geridos por aparelhos, causando caos e apocalíticas provenientes
de problemas sociais e sistemas políticos que o povo foi descartando até ser
tarde demais.
Na
mais recente temporada houve um episódio marcante no que toca à moralidade das
pessoas, de um futuro hipotético onde a vaidade fictícia e artificial se foi
tornando um fator de tal forma indispensável que a própria ética humana se tornou
renunciável. Tudo começa quando uma jovem afro-americana, Nish, se depara com
um velho museu quase abandonado, chamado “Black Museum”. Acontece que o nome
sinistro do museu é de facto adequado para o seu conteúdo – uma coleção de artefactos
(tecnológicos) icónicos usados em crimes históricos (muitos deles reconhecidos
de episódios antecedentes). Nish explora o museu, tendo como guia o dono do sítio,
um forte entusiasta das armas com um forte apetite pelo crime. Depois de
diversas explicações e histórias gráficas sobre cada objeto, Nish descobre um
dispositivo que dispõe um holograma de um senhor preto, com aspeto apático,
destruído. É então que o seu guia, Rolo Haynes, lhe apresenta Clayton Leigh, um
homem acusado de homicídio de um jornalista – contudo, em vez da sua sentença
de morte, Leigh assinou um contrato concordando em entregar a sua impressão
digital, para um estudo de uma máquina misteriosa, que asseguraria que a família
fosse bem providenciada depois da sua morte. Foi então que descobriu que a sua
impressão servia, na realidade, para o manter vivo numa imagem hologramática,
permitindo que ele vivesse permanentemente para ser eletrocutado repetidamente
para quem quisesse assistir ao sofrimento de um assassino (falsamente) acusado.
O entretenimento era desumano – sabendo que só morria definitivamente com um
choque de 15segundos, o dono do museu começou por autorizar apenas 10 ao público,
pois qual seria o divertimento de ver um vegetal a ser eletrocutado? Tinha de o
manter são, a par do próprio sofrimento, se não o divertimento sádico perderia
o interesse e ele perderia o sucesso. Mas a ganância revelou-se mais forte do
que o seu senso económico estratégico – com pequenos subornos, foi autorizando
certos clientes a ter aqueles 2 ou 3 segundos de prazer ao ver o famoso homem
em agonia eterna – até que ele perder consciência, e se tornar incapacitado. O
museu, sem a sua principal atração, foi perdendo sucesso até ir simplesmente à
falência.
No
entanto a grande reviravolta do episódio foi a descoberta de que Nish na
verdade não tinha acabado ali por acidente – Nish era filha de Clayton Leigh
que depois da sua vida traumática, nem a reconhecera. Num ato heroico, Nish captura
o dono do museu e prende-o na cadeia onde encontrara o prisioneiro, e mata o
pai, libertando-o de qualquer sofrimento e orientando-o para a morte merecida há
muito tempo.
Um
fim merecido e satisfatório para o público geral – mas será que é essa a
mensagem a ser transmitida? Que a vingança é a fonte de sucesso, de descanso?
Será que o verdadeiro criminoso é o dono do museu, que autorizou tal martírio a
acontecer, ou serão as pessoas, os clientes, que se deixam iludir a convencer-se
da sua inocência por não serem causadores, mas meros usufruidores de ofertas
que lhes são proporcionadas? Será que Nish é uma heroína por ter capturado Haynes
e o ter castigado como ele castigou o seu pai, ou será que é igualmente culpada
por causar a dor equivalente a mais uma vítima de tal tecnologia alienígena?


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