quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Recensão: Concerto de Swans

Segunda-feira, dia 9 de outubro de 2017, dou por mim perdida entre os armazéns na zona mais oriental de Lisboa à procura do recentemente inaugurado espaço ao qual decidiram chamar Lisboa Ao Vivo. Ainda que sozinha, não podia deixar de marcar presença naquele que foi provavelmente o último concerto dos Swans em Portugal, depois de terem atuado em junho no festival NOS Primavera Sound, no Porto. O que é facto é que a banda de culto de rock experimental inicialmente ativa entre os anos 1982 e 1997, e que posteriormente se reuniu em 2010, anunciara uma nova despedida, e desta vez é capaz de ser para sempre...

Já perto da Avenida Infante Dom Henrique, deparei-me com dois rapazes que pareciam igualmente perdidos como eu, a quem ofereci tampões para os ouvidos que me tinham sobrado, tais não tinham sido os avisos que me foram feitos acerca do volume dos concertos dos Swans... E não foi para menos. Juntos, lá conseguimos chegar ao local do concerto, quando estava precisamente a começar a primeira parte, que ficara ao cargo de Baby Dee, performer e multi-instrumentista que ali se mostra só com acordeão e acompanhada, como veio mais tarde a apresentar, pelo seu sobrinho na guitarra acústica. Entre histórias humorísticas, os dois foram aquecendo o público que ia compondo a sala. Foi de notar o grande cruzamento de gerações entre os fãs que pacientemente aguardavam a chegada dos Swans.

Passava pouco das 21h30, hora para o qual o concerto estava agendado, e os majestosos "cisnes", liderados por Michael Gira, sobem ao palco. Foi então que enfrentámos o habitual massacre sonoro dos Swans, centenas de decibéis a inundar os nossos tímpanos, mas a verdade é que não venderia a minha acuidade auditiva por nada menos que pura transcendência: O instrumental vai gradualmente crescendo, dando início ao tema "The Knot", com camadas de ruído a sobreporem-se, criando uma atmosfera inigualável a qualquer outra banda que me consiga lembrar, e abrindo portas para o ecoar quase divino da voz de Gira. É ele quem orquestra a banda, assumindo uma posição de genialidade insana e fazendo ressoar cada acorde. O primeiro momento de pausa é como que um acordar de um transe, e o público aplaude calorosamente como que agradecendo por aquela viagem que lhe foi proporcionada pelos 6 músicos em palco.





Fotografias originais


Assim se percebe a essência dos Swans: são o som em estado puro, uma espécie de onda electromagnética que se apodera dos nossos corpos, uma explosão de puro ruído que nos pode aniquilar, mas um caos extraordinariamente belo e impossível de resistir. Para muitos, mais vale ser cortado aos pedaços pelos Swans, do que ser acarinhado por outra banda qualquer. Ao longo de quase 3 horas, a banda norte-americana foi capaz de deixar a sala literalmente a tremer; já são conhecidos por concertos longos mas esta foi a tour de despedida, logo, tinha de ser mesmo especial. E assim o foi. Depois do concerto, senti-me física e mentalmente esgotada, mas da melhor maneira possível.

Até sempre, Swans.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.