quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Un Chien Andaloun . Luis Buñuel (1929)



No início do século XX, em plena época do auge das vanguardas europeias surge Un Chien Andalou, ou em português Um Cão Andaluz, uma colaboração artística entre Luis Buñuel e Salvador Dalí, dois grandes nomes do movimento surrealista.  Estes dois artistas fizeram parte do movimento surrealista em Espanha que influenciou a arte do país, sendo este filme um exemplo disso mesmo. Salvador Dali desenhava imagens com significados sociais e simbólicos. As habilidades de Buñuel como um surrealista foram aqui demonstradas pela primeira vez, considerando-se assim esta obra uma introdução aos seus trabalhos mais maduros cuja utilização de imagens bizarra começara aqui, e se tornariam mais abstratas uma vez que o artista começou a dominar seu ofício.

"Give me two hours a day of activity, and I'll take the other 22 in dreams -- provided I can remember them."  - Luis Buñuel

Sonhos eram aquilo de onde surgiam os filmes de Buñuel, e este sendo o seu primeiro não foi excepção, de uma conversa com Dalí sobre os seus sonhos mais recentes surgiu a ideia para esta curta. A partir de uma lógica dos sonhos, existe uma anulação da linearidade  narrativa, esta que vem quebrar o realismo. Nem o próprio nome ("Um Cão Andaluz"), nem a própria ação no filme, nem a relação entre estes foi escolhido e desenvolvido com o intuito de fazer sentido. 

É considerado um dos filmes surrealistas mais conceituados, isto porque foi realizado na esperança de chocar a sociedade da altura, o objetivo não era satisfazer o espetador mas sim aliená-lo. Isto deu-se numa sociedade bastante diferente da sociedade atual, mais conservadora onde a igreja tinha um grande peso e presença na vida das pessoas, assim este filme fora considerado "nojento" e de terror, e onde se procurou relação com significados religiosos  de modo a racionalizá-lo. Esta tentativa de racionalizar, é algo natural do ser humano, que ainda hoje, mesmo com todo o acrescento de conhecimento que temos sobre o filme, é nos quase impossível não tentar relacionar as ações umas com as outras, de modo a formar uma sequência narrativa. Daí existirem tantas interpretações sobre este filme, mas todas elas estavam ligadas a valores modernos, enquanto que a solução era o inconsciente.
 
O objetivo dos autores é esse mesmo, uma colagem de várias cenas, estas que não levão a nenhuma ideia ou relação com uma explicação racional, mas sim uma abertura para o irracional, cenas sem explicação. Assim ao visualizar este filme conseguimos entender a forma como estamos formatados a interpretar e realizar outros filmes, procurando significado e relação mesmo quando estes não existem.  A melhor maneira de descrever esta curta, seria apresentar todas as cenas que esta contêm. 





No entanto, a imagem de Un Chien Andalou que ficou imortalizada e à qual se associa logo, é a do corte do olho de cabra. E ao tentar relacionar esta imagem com algum significado consciente, o olho passou a ser um elemento de fascínio bastante utilizado e significativo no cinema. A sua influência para o mundo do cinema foi significativa, conseguiu a partir de uma representação impulsiva e simbólica das personagens, mostrar que o poder de provocar é tão ou mais importante que a própria representação, a argumentação, a narrativa e diálogo.


Un Chien Andalou, com todas as suas características é muito mais que um filme, uma experiência sensacional, a partir de toda a sua descontração narrativa, cenas desconcertantes e chocantes, que fazem com que o espetador esteja em constante exercício metal ou em estado apenas de apreciação. Uma curta-metragem, que é intemporal, um marco no mundo do cinema bem como uma revolta, que muitos mais tarde vêm estabelecer e seguir.





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