segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Consumismo: um ciclo vicioso

Ao refletir sobre a questão do objeto, Baudrillard infere que: “o objeto terá sido para mim a ‘palavra de ordem’ por excelência” (Jean Baudrillard, Palavras de Ordem pág.11). No livro O Sistema de Palavras, o filósofo afirma que é mais eficiente debruçarmo-nos sobre as questões que englobam o objeto, isto é, focarmo-nos mais no objeto e nos códigos inerentes a este e a relação deste com os outros objetos, do que focarmo-nos propriamente sobre o sujeito que consome. Se formos comparar, um consumidor comporta-se exatamente da mesma maneira: focando-se no objeto. Não obstante, quais serão então as consequências desse foco principal daquele que consome?

No mundo contemporâneo, o simples facto de um produto ser lançado causa na sociedade de consumo (aqueles que consomem mais atentos às novidades), um aumento do sentimento de desejo em relação ao dito produto, chegando a extremos de ser inclusive possível pagar pelo produto antes de o mesmo se encontrar à venda. Vivemos no século em que a aquisição de objetos está banalizada.

O consumidor compra o objeto, porque o mesmo é produzido, por sua vez, a fábrica produz objeto, porque o mesmo é comprado. Aumentando a dimensão, os compradores compram os objetos, porque os mesmos estão disponíveis, por sua vez, as fábricas produzem os objetos, porque para os mesmos existem compradores. Este é o panorama da sociedade consumista nos dias que correm, ou seja, está implementado um ciclo vicioso que agrada a todos os intervenientes do mesmo. Os consumidores obtêm os artigos que desejam. As fábricas escoam o stock dos produtos que estas produzem, resultando isto numa típica relação de “win-win”, isto é, uma situação em que as duas partes ganham: o consumidor “ganha” o objeto e a fábrica “ganha” o lucro.
Voltando à pergunta inicial: o que nos leva a adquirir um produto? Será o simples facto de este estar disponível? Será o simples facto de eu o querer? Serão as suas características? Será o facto de todos o terem? Será a necessidade que eu tenho de o ter? Ou não serão nenhuma destas opções?

A decisão de adquirirmos determinado artigo pertence-nos apenas e só a nós enquanto consumidores. No entanto, um meio e as ações do mesmo levam a que muitas vezes sejamos “empurrados”, impelidos a obter o produto, como por exemplo a quando do estratégico fenómeno conhecido por Black Friday ou épocas de promoções acima da média que nos levam a comprar mais itens do que se os mesmos se encontrassem ao normal PVP (Preço de Venda ao Publico), transformando as nossas casas em autênticos depósitos de objetos inutilizados pela força do fator tempo. Este consumo desenfreado conduz a um aparente sucesso de vendas que se traduz num aumento da produção de novos produtos, conduzindo por vezes a que esses novos produtos sejam versões suavemente melhoradas do primeiro, que sofrem, por sua vez, uma grande alteração no preço para mais.

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