Ao
refletir sobre a questão do objeto, Baudrillard infere que: “o objeto terá sido
para mim a ‘palavra de ordem’ por excelência” (Jean Baudrillard, Palavras de Ordem pág.11). No livro O Sistema
de Palavras, o filósofo afirma que é mais eficiente debruçarmo-nos sobre as
questões que englobam o objeto, isto é, focarmo-nos mais no objeto e nos
códigos inerentes a este e a relação deste com os outros objetos, do que
focarmo-nos propriamente sobre o sujeito que consome. Se formos comparar, um
consumidor comporta-se exatamente da mesma maneira: focando-se no objeto. Não
obstante, quais serão então as consequências desse foco principal daquele que
consome?
No
mundo contemporâneo, o simples facto de um produto ser lançado causa na
sociedade de consumo (aqueles que consomem mais atentos às novidades), um
aumento do sentimento de desejo em relação ao dito produto, chegando a extremos
de ser inclusive possível pagar pelo produto antes de o mesmo se encontrar à
venda. Vivemos no século em que a aquisição de objetos está banalizada.
O consumidor
compra o objeto, porque o mesmo é produzido, por sua vez, a fábrica produz
objeto, porque o mesmo é comprado. Aumentando a dimensão, os compradores
compram os objetos, porque os mesmos estão disponíveis, por sua vez, as fábricas
produzem os objetos, porque para os mesmos existem compradores. Este é o
panorama da sociedade consumista nos dias que correm, ou seja, está
implementado um ciclo vicioso que agrada a todos os intervenientes do mesmo. Os
consumidores obtêm os artigos que desejam. As fábricas escoam o stock dos
produtos que estas produzem, resultando isto numa típica relação de “win-win”,
isto é, uma situação em que as duas partes ganham: o consumidor “ganha” o
objeto e a fábrica “ganha” o lucro.
Voltando
à pergunta inicial: o que nos leva a adquirir um produto? Será o simples facto
de este estar disponível? Será o simples facto de eu o querer? Serão as suas
características? Será o facto de todos o terem? Será a necessidade que eu tenho
de o ter? Ou não serão nenhuma destas opções?
A
decisão de adquirirmos determinado artigo pertence-nos apenas e só a nós
enquanto consumidores. No entanto, um meio e as ações do mesmo levam a que
muitas vezes sejamos “empurrados”, impelidos a obter o produto, como por
exemplo a quando do estratégico fenómeno conhecido por Black Friday ou épocas de promoções acima da média que nos levam a
comprar mais itens do que se os mesmos se encontrassem ao normal PVP (Preço de
Venda ao Publico), transformando as nossas casas em autênticos depósitos de objetos
inutilizados pela força do fator tempo. Este consumo desenfreado conduz a um
aparente sucesso de vendas que se traduz num aumento da produção de novos
produtos, conduzindo por vezes a que esses novos produtos sejam versões
suavemente melhoradas do primeiro, que sofrem, por sua vez, uma grande
alteração no preço para mais.
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