"As I have made clear so often in the past with every fiber of my being, I embrace my natural heritage and despite having grown up thinking light skin and straight, silky hair were the standards of beauty, I now know that my dark skin and kinky, coily hair are beautiful too. Being featured on the cover of a magazine fulfills me as it is an opportunity to show other dark, kinky-haired people, and particularly our children, that they are beautiful just the way they are. I am disappointed that @graziauk invited me to be on their cover and then edited out and smoothed my hair to fit their notion of what beautiful hair looks like. Had I been consulted, I would have explained that I cannot support or condone the omission of what is my native heritage with the intention that they appreciate that there is still a very long way to go to combat the unconscious prejudice against black women's complexion, hair style and texture. #dtmh"
"Como deixei claro com tanta frequência no passado com todas as fibras do meu ser, eu abraço minha herança natural e mesmo tendo crescido pensando que pele clara e cabelos lisos e sedosos eram os ideais de beleza, hoje eu sei que minha pele escura e meu cabelo encaracolado são igualmente lindos. Estar numa capa de revista é realizador para mim porque é uma oportunidade de mostrar para outras pessoas negras de cabelos encaracolados, particularmente nossas crianças, que elas são lindas do jeito que elas são. Estou decepcionada que a @graziauk me convidou para estar na capa e depois editou meu cabelo para adequar à sua noção de como é um cabelo lindo. Se eu tivesse sido consultada, teria explicado que não posso apoiar ou tolerar a omissão da minha herança nativa com a intenção de que eles apreciem que ainda há um caminho muito longo a percorrer para combater o preconceito inconsciente contra a pele, estilo e textura de cabelo das mulheres negras. #dtmh"Nas publicações vê-se a comparação entre as imagens originais e o resultado final da capa após a edição. Nota-se o uso do airbrush para apagar parte do cabelo de Lupita e suavizar a textura, consistindo em uma adequação aos padrões de beleza europeus.
Essas alterações colaboram com a manutenção da ideologia dominante imposta à sociedade, na qual os indivíduos crescem com noções pré-determinadas das características que ditam o que é um "cabelo bonito". Estas noções atendem à classe dominante, nesse caso os brancos. Assim, os negros assistem a ideologia ser perpetuada e são coagidos a se adequarem à uma realidade que não é a deles, adotando práticas ideológicas de submissão, como por exemplo a de alisar o cabelo.
Pode-se ir ainda mais fundo no que diz respeito as origens dessa submissão, ao analisar-se o trabalho de Frantz Fanon, nomeadamente no livro Pele Negra, Máscaras Brancas. O autor diz que os efeitos do colonialismo e do racismo internalizaram no negro vergonha, insatisfação, inferiorização e fascinação pelo branco, fazendo com que estes sujeitos sofressem um processo de alienação de sua própria existência. Isso construiu indivíduos subordinados, que cada vez mais buscavam uma 'identidade branca' na esperança de mascarar a cor de suas peles visando terem reconhecimento na sociedade.
"O negro quer ser como o branco. Para o negro não há senão um destino. E ele é branco. Já faz muito tempo que o negro admitiu a superioridade indiscutível do branco e todos os seus esforços tendem a realizar uma existência branca."
Fanon, Pele Negra, Máscaras Brancas
Para alcançar a liberdade é necessário que os indivíduos ganhem consciência e tomem as rédeas da sua própria existência. Por meio da resistência é possível subverter, mesmo que em pequena escala, a ideologia vigente. Atualmente, a resistência tem aparecido em grande quantidade na forma de manifestações nas redes sociais, como no caso da atriz Lupita Nyong'o. A atriz encerrou o texto com a hashtag "dtmh", ou "don't touch my hair", cuja tradução seria algo como "não encoste no meu cabelo". Não aceitar uma identidade social com a qual o próprio sujeito não se identifica, é um difícil, entretanto grande passo na luta para a libertação.
FANON, Frantz - Pele Negra, Máscaras Brancas. EDUFBA. Salvador, 2008.
FISKE, John - Introdução ao Estudo da Comunicação. Edições Asa. Porto, 1993.

Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.